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Ex-alunos da UnB criam pré-vestibular gratuito para ajudar jovens no DF

Jéssica Nascimento

Do UOL, no Distrito Federal

07/04/2015 06h02Atualizada em 07/04/2015 09h31

Alyne Coelho, 17, sai todos os dias de Águas Lindas (GO) para estudar na Asa Norte, no Distrito Federal. São cerca de 50 km de distância, duas horas de ônibus. Ela sai de casa às 5h e volta apenas meia noite. Todo o esforço é por um sonho: estudar terapia ocupacional na UnB (Universidade de Brasília). Alyne e outros 55 estudantes fazem parte do projeto Galt, um cursinho pré-vestibular gratuito para alunos de baixa renda.

Os idealizadores do projeto são Rubenilson Cerqueira, 25, e Priscilla Dalledone, 27, ambos formados pela UnB. Além deles, há 23 professores envolvidos, todos voluntários. "Sempre estudei em escola pública e sei das dificuldades que os alunos sofrem. Muitos deles chegam aqui sem nenhuma base, mas, com muito esforço e dedicação, conseguem alcançar o nível superior. Essa é a nossa recompensa", conta Rubenilson, que estudou relações internacionais.

Na sala de aula, dez alunos querem cursar medicina. Mylena Ribeiro, 17, e Victor Enedina, 18, são alguns deles. "Quero trabalhar na área pública para ajudar as pessoas que realmente precisam. Vou cursar meu primeiro vestibular no meio do ano, se não passar, vou tentar até conseguir", conta a moradora de Ceilândia, Mylena.

Victor já cursa enfermagem em uma faculdade particular com bolsa do Prouni (Programa Universidade para Todos), mas sonha estudar medicina. "Deixei de treinar natação, ir ao cinema, festas e frequentar as aulas de inglês. Até namorar ficou difícil", disse.

Esforço é a diferença

Segundo a professora de literatura Priscilla, a diferença entre os alunos do Galt para os demais é basicamente o esforço e foco dos estudantes. "A maioria mora longe, faz estágio e mesmo assim não desiste. Eles fazem jus ao nosso tempo doado. Os sonhos deles viram os nossos”.

As aulas acontecem de segunda a sexta-feira de 18h15 as 22h e no sábado de 9h as 13h45. Há apenas uma turma e a maioria dos jovens têm entre 17 e 19 anos. Parte deles trabalha para ajudar a família.

Para aproveitar as aulas gratuitas, Edlla Souza, 18, deixou a família em Valparaíso (GO) para morar na casa de amigos no DF durante a semana. Isso tudo para ficar mais perto do colégio e ter mais tempo para estudar. "Já passei no curso de filosofia pela UnB, mas sonho em cursar arquitetura e urbanismo. Quero dar uma vida melhor para os meus pais", conta.

Vagas disputadas

Para frequentar o cursinho, é preciso ter estudado em escola pública ou ser bolsista integral de um colégio particular. Após a inscrição, os estudantes participam de duas etapas: uma prova escrita com redação e uma entrevista. A turma de 2015 é a primeira do projeto e atualmente há 50 estudantes na lista de espera.

Além do trabalho dos professores voluntários, o projeto só existe graças a doações, que podem ser feitas no site da instituição.