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Fuvest: Sem 'gramática pela gramática', português focou interpretação

7.jan.2018 - Candidatos participam da segunda fase da Fuvest, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), na zona oeste da capital paulista - LUIZ CLÁUDIO BARBOSA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO
7.jan.2018 - Candidatos participam da segunda fase da Fuvest, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), na zona oeste da capital paulista Imagem: LUIZ CLÁUDIO BARBOSA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO

Bruno Aragaki

Colaboração para o UOL, do Rio

07/01/2018 21h09

Nada de regras de crase, plurais de substantivos compostos rebuscados ou “pegadinhas” do novo acordo gramatical. As questões de português da Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular) deste domingo (7) consolidaram uma tradição de prova que exige pouca “gramática pela gramática” e foca na interpretação de texto e análise da língua, conforme análise de professores de cursinhos ouvidos pelo UOL.

Imagem da questão 1 de português da prova de segunda fase da Fuvest-2018 - Reprodução/UOL - Reprodução/UOL
Imagem: Reprodução/UOL
“Essa é uma prova que explora a capacidade do aluno de entender os sentidos e usos da linguagem, seja ela escrita, ou mesmo imagética”, resume Laudenir Guedes, do Objetivo.

Como exemplo, ele cita a primeira questão da prova, em que o candidato precisava interpretar um anúncio publicitário da Justiça Eleitoral. Para responder a essa pergunta, o candidato poderia explorar a origem da palavra “digital” -- que vem de “dígito” e se refere a dedo, exatamente o que a figura que acompanhava a questão representava.

O coordenador do curso Oficina do Estudante, Célio Tasinafo, destacou a mistura de gêneros textuais presente na prova. “Desde anúncios publicitários a um texto de caráter mais filosófico, a prova exigiu uma grande habilidade interpretativa”, opinou Tasinafo.

Sem consenso sobre grau de dificuldade

Fácil ou difícil? Não houve consenso entre os seis professores ouvidos sobre o grau de complexidade do exame.

Enquanto professores dos cursos Objetivo, Anglo e Cursinho da Poli classificaram a prova como “fácil”, os instrutores do Etapa e Poliedro viram um exame “mediano”, e a Oficina do Estudante qualificou como “exigente”.

“A maioria da prova focou na interpretação de texto, mas houve algumas questões exigindo conversão de verbo da voz ativa para a voz passiva, passagem de tipos de discurso [do direto para o indireto]”, apontou César Ceneme, do Poliedro.

Já o professor do curso Anglo Sergio Paganim, para quem a prova “não apresentou grande dificuldade”, ressaltou o fato de a Fuvest trazer a definição, na própria prova, das palavras menos conhecidas pelo aluno.

Um exemplo é a questão 7, em que a banca examinadora trouxe, abaixo de um trecho de Iracema, obra de José de Alencar, a definição de murta (“arbusto, árvore pequena”, conforme transcrição da prova) . “Isso mostra que o que importa para a Fuvest é que o aluno seja capaz de entender o texto e a língua como um todo”, diz Paganim.

A Cidade e as Serras ficou de fora

Das 10 obras que constavam da lista de leituras obrigatórias, chamou a atenção dos professores a ausência, tanto na primeira quanto na segunda fase, de questões referentes ao livro A Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz.

“Além de não ter figurado dentre as perguntas deste ano, a obra não será cobrada no vestibular do ano que vem”, destacou o professor do curso Etapa, Heric Jose Palos. A lista de leituras obrigatórias até 2019 foi divulgada há dois anos pela instituição.

Provas seguem

A segunda fase da Fuvest avançará por mais dois dias. Nesta segunda-feira (8), haverá perguntas de história, geografia, matemática, física, química, biologia e inglês; na terça-feira (9), será a vez de disciplinas referentes à carreira pretendida.

A lista de aprovados está prevista para 2 de fevereiro. Serão anunciados os selecionados para as 8.402 vagas de graduação disponibilizadas pela USP (Universidade de São Paulo).