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'Há 2 anos, não lembrava como fazia conta', diz 1º em medicina do Einstein

Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

Lucas Rodrigues

Do UOL, em São Paulo

05/02/2016 15h44

Em dois anos, Gabriel Herculano Lopes foi da "estaca zero" ao 1º lugar em medicina da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, instituição de ensino do conceituado hospital de mesmo nome. 

"Há dois anos, eu nem lembrava como fazia uma conta. Acabei dando um salto muito grande", diz o estudante de 29 anos, que já é formado em design.

"Eu não me recordava de basicamente nada. Não lembrava o que era átomo. Fiquei uma semana vendo vídeos do YouTube sobre matemática básica. Saí do zero e consegui ficar bem focado. Terminei um namoro para me dedicar exclusivamente aos estudos", conta.

Gabriel estava longe da salas de aula há muito tempo: em 2009, ele terminou o curso na Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Bauru. Do ensino médio, ele saiu em 2004. O jeito foi correr atrás da diferença para conseguir uma vaga na carreira mais concorrida do país.

Foram dois anos de cursinho e uma rotina puxada: acordava 4h50 para sair de Santo André, na região metropolitana de São Paulo, e assistir às aulas na Vila Mariana (Poliedro). Os estudos em sala iam até 18h, mas ele ficava até 21h30 na biblioteca.

"Transformei o cursinho Poliedro na minha casa. Às vezes cheguei a dormir no chão da biblioteca por alguns minutos para descansar", lembra.

O primeiro vestibular de medicina do Einstein teve uma das maiores concorrências do país: foram 215 candidatos por vaga. Além dele, Gabriel passou na Famema (Faculdade de Medicina de Marília), foi aprovado na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) pelo Sisu e, agora, aguarda o resultado da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que sai dia 12 de fevereiro. Na Fuvest, que seleciona alunos para a USP (Universidade de São Paulo), ele ficou por um ponto e não chegou à segunda fase.

Estudos

Além da resolução de provas anteriores, uma estratégia comum dos vestibulandos, Gabriel considera saber fazer uma boa redação um diferencial.

"Vai além de você cumprir as tarefas propostas de um texto. Quando você foca na redação, você começa a ter criticidade, acelera o seu processo de pensamento e você vai acabar escrevendo bem nas questões dissertativas de outras disciplinas", avalia.

Para o estudante, funcionou dar maior atenção para as matérias em que ele tinha mais dificuldade quando estava mais disposto. "Você tem momentos em que está cansado e outros em que está com maior gás. Quando eu estava descansado, olhava as matérias em que eu tinha mais dificuldade. Quando cansava, no final do dia, começava a estudar o que eu tinha facilidade", lembra.

Mas a melhor dica, na opinião dele, é compreender o estilo da prova. "Nesses dois anos eu consegui entender como funciona o vestibular e me posicionar de uma maneira melhor para ter um desempenho forte", diz. "Ter mais maturidade me ajudou a entender que eu não precisava saber tudo, mas manejar a informação de uma maneira adequada."

Mudança de profissão

Gabriel sempre estudou em escolas privadas, com auxílio de bolsa. Enquanto fazia a primeira graduação, em design, ele começou a trabalhar nessa área. "No meu último ano, fiz a parte gráfica de alguns programas de grandes emissoras. Aprendi a ter responsabilidade e amadureci bastante."

Filho de mãe professora de educação física e pai cirurgião dentista, a temática da saúde sempre esteve presente na vida de Gabriel. "Sempre gostava de cuidar da saúde dos meus amigos e me interessava por fisiologia do corpo e alimentação saudável", diz. "Mas medicina não é só cuidar das pessoas. Acredito que o médico é um agente que modifica a realidade. Ele não dá só o remédio, ele gera mudanças de hábito."

Para passar na Faculdade do Albert Einsten, ele encarou uma prova com questões de múltipla escolha, dissertativas e redação na primeira fase. No teste final, os candidatos passaram por entrevistas individuais, nas quais eram submetidos a situações para aferir habilidades não cognitivas. "Eles cobraram comportamento ético, postura, empatia e capacidade de comunicação", avalia Gabriel.

O estudante vai tentar uma bolsa para arcar com os custos da faculdade, que é privada.