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Vinte e três universitários vão parar na polícia após trote em MG

Rayder Bragon

Do UOL, em Belo Horizonte

27/05/2013 14h06

Um grupo de alunos da UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rei) apontados como responsáveis por trote contra calouros considerado violento foi detido pela Polícia Militar mineira sob acusação de constrangimento ilegal. Ao todo, vinte e três universitários tiveram que assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência no qual se comprometeram a comparecer perante a Justiça quando solicitados.

O caso ocorreu na semana passada com estudantes do campus localizado na cidade histórica de São João del-Rei (a 185 km de Belo Horizonte). De acordo com a polícia, o primeiro episódio foi registrado na quarta-feira (22), quando sete alunos do curso de zootecnia teriam obrigado dezesseis calouros a pedirem dinheiro em avenida da cidade. As vítimas, segundo a ocorrência, tiveram os cabelos raspados e seus corpos foram cobertos por tinta e óleo queimado, além de uma substância descrita pela PM como “fétida”. Eles ainda eram conduzidos pelos veteranos com cordas atadas ao pescoço.

No dia seguinte, a PM foi novamente acionada e deteve dezesseis alunos veteranos do curso de engenharia elétrica que também teriam obrigado vinte e oito alunos calouros a passaram por constrangimento parecido. Nesse caso, conforme relato da PM, só não houve a utilização da corda. Nesse episódio havia três alunos adolescentes submetidos ao trote. Eles teriam sido emancipados pelos pais para poderem estudar na universidade e residir na cidade.

De acordo com o capitão Sandro José Tavares, comandante da 189ª Companhia da Polícia Militar, os acusados foram detidos porque existe uma lei no município, desde o ano passado, que veda a prática de trotes violentos na cidade. Eles foram encaminhados a uma delegacia da Polícia Civil da cidade, ouvidos e liberados em seguida. No entanto, eles vão responder pelo delito.

“Como é um crime considerado de menor potencial ofensivo, ele é julgado pelo Juizado Especial Criminal. Eles assinaram um Termo Circunstanciado de Ocorrência e se comprometeram a comparecer quando acionados pela Justiça”, explicou o oficial.

Universidade vai investigar

Segundo o pró-reitor de ensino de graduação, Marcelo Pereira de Andrade, a universidade já recebeu o relatório da Polícia Civil sobre as duas ocorrências e aguarda o relatório da ação dos alunos feito pelo curso de zootecnia para definir quais as medidas serão tomadas sobre o caso. Ele ressaltou que o trote considerado violento ou humilhante é proibido nas dependências da universidade e fora dela. 

“Nós estamos estudando o trâmite que será dado. Se mandamos direto para o Comitê de Ética ou se abrimos uma sindicância para investigar todo o ocorrido”, afirmou o professor. De acordo com ele, existe um rito processual, com amplo direito à defesa dos alunos, que é seguido pela universidade. Andrade disse que os alunos suspeitos de aplicarem o trote continuam a frequentar as aulas.

“Se for aberta uma comissão de sindicância, ela vai ouvir todos os envolvidos, e o resultado dos trabalhos dessa comissão é remetido para o Comitê de Ética da Reitoria para as devidas providências. No nosso regimento, as ações disciplinares envolvem advertência, suspensão ou exclusão do aluno da nossa instituição”, explicou.

Segundo ele, os trabalhos da sindicância podem levar de 60 a 90 dias para serem finalizados.  “Dentro dos nossos campi não existem a ocorrência de trotes desse tipo. O problema é quando ele vai para as ruas. O próprio movimento estudantil tem uma posição contrária a trotes que envolvam coação e constrangimento”, disse.

O pró-reitor disse já ter tido uma reunião com os estudantes veteranos do curso de engenharia e, conforme Andrade, eles se mostraram arrependidos do ato que praticaram.

“Eles pediram desculpas aos calouros e à própria reitoria e se mostraram arrependidos”, declarou.
Segundo ele, o caso foi isolado, já que a maioria dos veteranos da universidade é adepta do chamado “trote solidário” durante a acolhida aos calouros.

“No campus situado na cidade de Ouro Branco (MG), nós tivemos um trote no qual foram recolhidos 800 quilos de alimentos para serem doados a instituições de caridade”, frisou.