Ministra de Direitos Humanos evita falar em punição para acusados de racismo da UFMG
A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República Maria do Rosário Nunes evitou falar em punições para os alunos da Faculdade de Direito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) acusados de racismo e preconceito em trote realizado, em março, na escola.
Fotos do trote em que uma caloura aparece amarrada e pintada de preto, carregando um cartaz em que é chamada de “Caloura Chica da Silva” --em referência à personagem histórica, uma escrava negra libertada que viveu em Diamantina (MG) no século 18-- enquanto outro aluno a puxa com uma corrente, e, outra, em que alunos fazem saudações nazistas, um deles com bigode semelhante ao usado por Adolfo Hitler, e outro estudante está amarrado numa pilastra, circularam nas redes sociais.
A UFMG abriu sindicância para apurar os fatos e identificar os responsáveis, que podem desde sofrer uma advertência até serem expulsos. O Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial, também ligado à Presidência da República, pediu à UFMG providência e penalização dos alunos.
O Conselho ainda exigiu, em nota publicada no Diário Oficial da União, que a UFMG preste informações sobre as medidas adotadas para coibir “as práticas criminosas”.
Maria do Rosário salientou, porém, a singularidade de o fato ter ocorrido dentro de uma universidade. Indagada se deveria haver punição, a ministra dos Direitos Humanos defendeu “reflexão” sobre os trotes.
“Ninguém está acima da lei. O racismo é lei. A responsabilidade pode, sem dúvida, existir. No entanto, numa instituições de educação, acredito na transformação das pessoas e na reflexão”, disse.
“A atitude de alguns alunos é reflexo de como eles se comportam com o outro”. Segundo Maria do Rosário, a forte reação das pessoas, manifestada quando as fotos foram divulgadas na internet e pela imprensa, fará com que esses estudantes repensem seus atos.
“Essa atitude está sendo sentida pelos próprios jovens, no sentido deles repensarem e se posicionarem na forma de ver o mundo. De forma a perceber que a violência tem muitas formas de expressão, inclusive simbólicas”, disse a ministra.
“Isso aqui”, disse referindo-se ao trote na UFMG, “pode orientar todo o sistema educacional no enfrentamento de atitudes que são contra as pessoas negras, contra as meninas e as mulheres e contra os homossexuais, que em geral são também atingidos por violências no modo de falar e de agir nas instituições”, disse Maria do Rosário.
A ministra participou nesta quinta-feira (11) de debate sobre os trotes, no campus da UFMG, na Pampulha, em Belo Horizonte. O encontro, parte da campanha Trote não é legal, organizada pela universidade, discutiu a questão da recepção aos novos alunos. Segundo a vice reitora da UFMG, Rocksane de Carvalho Norton, a campanha Trote não é Legal já estava programada pela universidade e não é consequência dos fatos, objeto de sindicância na UFMG.
Ritos de passagem
“Precisamos mudar os ritos de passagem entre o ensino médio e a universidade. Os trotes são proibidos na UFMG. Fizemos a recepção dos novos alunos em 7 de março. Lamentavelmente, três dias depois, em 12 de março, tivemos os trotes na escola de direito. A sindicância tem 30 dias para emitir um parecer, que podem ser prorrogados por mais 30 dias”, afirmou.
A coordenadora geral do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da UFMG Nathália Guimarães, 22, aluna de Ciência Sociais, defende que os trotes sejam modificados na UFMG. “Deve haver, e fazemos isso em muitas escolas da universidade, uma recepção aos alunos, quando podem ser discutidas as questões acadêmicas, não esses trotes violentos”, afirma a estudante.
“O trote não é isolado. Ele mostra o que acontece na universidade, na sociedade. Ele reproduz o racismo, a homofobia e o machismo”.
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