12/02/2009 - 18h13

MPF investiga trote em Catanduva; faculdade pode ser reponsabilizada

Karina Yamamoto
Editora do UOL Vestibular

O procurador da república Jefferson Aparecido Dias começou a investigar nesta quinta (12) a responsabilidade da Fameca (Faculdade de Medicina de Catanduva) no trote dos calouros de medicina deste ano. Os "bichos" de medicina abaixaram as calças em um viaduto de Catanduva sob aparente coação de seus veteranos.

"Estamos investigando se há conivência da universidade, ou por ação ou por omissão", disse o procurador ao UOL Vestibular. "Ela [a universidade] tem um ano para se preparar [para receber os novos alunos] e, mesmo assim, nessa época sempre acontecem essas barbaridades."

Se for constatada a "conivência" da instituição, ela poderá ser alvo de um termo de ajuste de conduta ou mesmo de sanções mais rigorosas, explicou o procurador. "[Esse assunto] é de interesse da do MPF (Ministério Público Federal] uma vez que ela [a faculdade] precisa de autorização da União para funcionar e tem como responsabilidade formar também cidadãos [além de profissionais]", complementa.

Após a conclusão desse caso, o procurador pretender partilhar com seus colegas um termo de recomendação às faculdades e universidades.

Conduta dos calouros

Para os "bichos", o procurador recomenda não se submeter ao trote. "Não é natural", diz em relação à tradicional boa vontade dos novatos em se submeter às investidas dos alunos mais velhos. "É como se eles aceitassem para ter salvo-conduto para o próximo ano, para [poder] fazer isso com o próximo."

Se houver algum tipo de constrangimento por parte do aluno recém-chegado em se negar, o procurador aconselha que o MPF seja procurado. "Se possível, tire fotos, grave situações" para ajudar nas documentações dos episódios.

Para o professor Oriowaldo Queda, que estuda o assunto há quase uma década", é preciso eliminar qualquer tipo de recepção aos calouros. "Não tem nenhuma utilidade na formação de cidadãos", diz.

Como é difícil separar o que é brincadeira do que é violência, o melhor é cortar o mal pela raiz. Na sua primeira pesquisa sobre trote, publicada em 2003, ficou claro a diferença de percepção entre os estudantes. "[Verificamos:] o que é violento para um é brincadeira para o outro", constatou. "Se essa separação não é possível, é melhor acabar com a possibilidade do trote".

Casos na mídia

Além desta, outras histórias ganharam destaque nesta semana em que há muitas insituições promovendo a matrícula para 2009.

Na terça-feira (10), no trote da UFG (Universidade Federal de Goiás), um calouro foi vítima de agressões da Polícia Militar.

Na segunda-feira (9), em Santa Fé do Sul (625 km de SP), duas calouras, uma delas grávida de três meses, sofreram queimaduras depois serem atingidas por uma mistura química, que acredita-se ser de tíner e creolina. No mesmo dia, em Leme (189 km de SP), o calouro de medicina veterinária Bruno César Ferreira, 21, ficou em coma alcoólico, foi submetido a uma sessão de chicotadas e foi forçado a entrar numa lona com restos de animais em decomposição, fezes e esterco.

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