! Para romper a tradição - 18/02/2011 - UOL Vestibular
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18/02/2011 - 11h14 / Atualizada 03/03/2011 - 12h26

Para romper a tradição

José Geraldo de Sousa Junior*
Reitor da UnB (Universidade de Brasília)

Sob o argumento de que sempre foi assim ou de que participa apenas quem quer, estudantes prosseguem submetendo os novatos a rituais de humilhação em várias universidades do Brasil e do mundo.

Neste janeiro de 2011, entretanto, tivemos um fato novo aqui na UnB (Universidade de Brasília). As fotos do trote da agronomia motivaram a Secretaria de Políticas para Mulheres, da Presidência da República, a pedir explicações formais à universidade sobre o comportamento dos alunos. 

As imagens dos estudantes submetendo as colegas a um ritual de humilhação tiveram rápida e necessária repercussão midiática. E, à medida que elas foram divulgadas, recebemos mensagens de professores, estudantes e funcionários repudiando a perversa prática a qual as alunas foram submetidas.

Veja o vídeo do trote

O NEPeM (Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Mulheres) da UnB considerou as “brincadeiras” vulgares, vexatórias, desrespeitosas e humilhantes. O NEP (Núcleo de Estudos para a Paz e Direitos Humanos) ressaltou o caráter opressor dos trotes tradicionais.

O Conselho da FAV (Faculdade de Agronomia e Veterinária), unidade acadêmica dos alunos que aplicaram e receberam o trote, aprovou moção de repúdio às “brincadeiras” sexistas.

O DCE (Diretório Central de Estudantes) também protestou. Na última sexta-feira (5.fev), com guarda-chuvas e placas de madeira, os líderes estudantis tentaram proteger os novatos da chuva de ovos e farinha que, tradicionalmente, marca a divulgação do resultado do vestibular.



Para apurar as responsabilidades do trote da agronomia, determinei a abertura de uma comissão de sindicância. A comissão tem 30 dias para produzir um relatório e estabelecer punições para os organizadores e executores. A comissão concederá amplo direito de defesa aos estudantes e seguirá os regulamentos internos da UnB e da FAV.

A universidade não promoverá uma caça às bruxas, mas uma investigação que, dentro de uma perspectiva educadora, atribuirá responsabilidades. Os estudantes que aplicaram o trote precisam estar conscientes de que expuseram as colegas a situações de coerção e humilhação, que em nada combinam com o ambiente universitário.  

Desde o início da minha gestão, em 2008, estamos promovendo atividades para que a entrada dos ingressantes seja a mais amigável possível. Nos últimos quatro semestres, uma comissão de boas-vindas composta por alunos, funcionários e professores organizou eventos acadêmicos, culturais e esportivos para apresentar a UnB a seus novos integrantes.

Acredito, entretanto, que a ação pedagógica mais eficiente contra o trote violento tenha sido a divulgação daquelas fotos. Ao não se reconhecer naquelas imagens, a universidade firmou posição contra práticas que reduzem a dignidade humana, “brincadeiras” que humilham e rituais que promovem hierarquizações desnecessárias.

As imagens provocaram reflexão. Confio que, nos próximos semestres, os trotes sujos estarão cada vez mais esvaziados na Universidade de Brasília. Os argumentos de que eles são tradição e de que participa apenas os que querem foram desmontados diante da agressividade daquelas imagens.

José Geraldo de Sousa Junior, reitor da Universidade de Brasília, professor da Faculdade de Direito, pesquisador de temas relacionados aos direitos humanos e cidadania

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