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Cristianização e eleições Roberson de Oliveira* Especial para a Folha de S. Paulo Um dos velhos fenômenos do folclore político nacional é a "cristianização", que teve origem por ocasião das eleições de 1950. A eleição presidencial de 1950 era aguardada com muita expectativa, pois colocaria frente a frente os articuladores do golpe que derrubou o Estado Novo e o ex-ditador em pessoa, Getúlio Vargas. Os liberais que fizeram oposição a Vargas no final do Estado Novo estavam organizados na União Democrática Nacional e lançaram como candidato às eleições o brigadeiro Eduardo Gomes. O PSD e o PTB, partidos criados por Vargas, alimentavam a esperança de tê-lo como candidato por uma das legendas, pois sua popularidade era inegável e suas chances de vitória, muito grandes. Entretanto, Vargas tardou a se decidir, talvez até intencionalmente, pois era consciente das suas dificuldades em São Paulo e precisava de um apoio no Estado, que estava sendo pacientemente tecido por meio de uma aproximação com o governador Ademar de Barros, do PSP. Não restou outra alternativa ao PSD senão lançar um candidato próprio, um mineiro, sem expressão nacional, chamado Cristiano Machado. Definidas as candidaturas dos adversários, Vargas optou pelo PTB, partido de sua preferência pessoal em virtude da sua base sindical, e formalizou uma aliança com o PSP de Ademar, garantindo uma boa capacidade de captação de votos no maior colégio eleitoral que lhe era adverso. As principais lideranças políticas do país perceberam que dificilmente Vargas perderia aquela eleição. Foi assim que alguns dos líderes do PSD resolveram abandonar seu candidato, isto é, oficialmente reconheciam a candidatura do partido, mas, extra-oficialmente, apoiavam Vargas e trabalhavam para sua eleição, fazendo questão de que ele soubesse disso, pois tinham o objetivo de serem recompensados com participação no governo depois da vitória. Desde então, sempre que um partido e aliados abandonam sua candidatura oficial e migram, discretamente, para outros candidatos com maiores chances de vitória, afirma-se que o partido "cristianizou". *Roberson de Oliveira é professor e autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) |
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