Graciliano Ramos (27/10/1892, Quebrângulo, AL 20/03/1953, Rio de Janeiro, RJ | Modernista de má vontade, como o classificou Wilson Martins, Graciliano Ramos é a figura do escritor sóbrio, de precisão vocabular e um estilo, elaboradíssimo, que nasce do esforço permanente em reescrever. Desprezando os solecismos modernistas, o desmazelo proposital que alguns daqueles escritores quiseram transformar em regra, Graciliano tornou-se um mestre no apuro da linguagem, mantendo estreitos vínculos com as melhores tradições da literatura de língua portuguesa. Ou seja, ele reúne todas as qualidades de um clássico. | Vida e obra | Balconista no comércio paterno (na cidade de Palmeira dos Índios), revisor em jornais do Rio de Janeiro, proprietário de um armarinho (quando de sua volta a Alagoas), prefeito, diretor da Imprensa Oficial (e, a seguir, da Instrução Pública), preso político e inspetor federal do Ensino, a vida de Graciliano Ramos é um exemplo de como a literatura nasce nas condições mais improváveis. Sua obra está dividida em três grupos: (a) romances escritos em primeira pessoa: Caetés (1933), São Bernardo (1934) e Angústia (1936) – nos quais o autor disseca os infernos da psicologia humana, revelando o mundo subterrâneo de seus personagens; (b) narrativas em terceira pessoa: Vidas Secas (1938) e Insônia (1947, contos) – à psicologia dos personagens, o escritor acrescenta uma perfeita visão da realidade; e (c) obras autobiográficas: Infância (1945) e Memórias do Cárcere (1953, obra póstuma). | Principais obras: São Bernardo, Angústia e Vidas secas. | Características | O regionalismo de Graciliano Ramos pode ser considerado um acidente nascido da imposição biográfica. O Nordeste que surge de sua obra não é a tentativa de elaborar uma sucessão de painéis em que se procura, simplesmente, mostrar o homem e a vida típicos daquela região. Acima de tudo, o que interessa a Graciliano é o drama, social e psicológico, que massacra o homem, que anula sua dignidade. Nesse sentido, Vidas secas, por exemplo, não se restringe a episódios que retratam a vida precária de certa família de retirantes, mas apresenta pessoas sem esperança, submetidas à vontade dos poderosos e aos caprichos da natureza. O próprio linguajar dos personagens - frases soltas e incompletas, monossílabos - | | revela como, presos à luta pela sobrevivência, encontram-se apartados de tudo que é humano. Não por outro motivo, o personagem de maior "humanidade" é a cachorra Baleia. Além disso, Vidas secas representa o ponto de chegada do apuro linguístico e do sintetismo desse grande escritor. | Curiosidades | Graciliano acordava muito cedo, entre 4 e 5 horas da madrugada, e logo começava a escrever. Todos os seus livros foram escritos no período da manhã. Ele escreveu toda a sua obra à mão. Usava qualquer tipo de papel (livros-caixa antigos, papéis variados etc.) e lápis ou caneta. Memórias do Cárcere, por exemplo, está escrito em 448 folhas de diversos tamanhos - e Graciliano usou lápis (preto ou roxo) e caneta (tinta preta ou azul). | ÍNDICE DE REVISÕES | | |