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Criação de cursinhos populares tem viés social

Elisa Estronioli

Em São Paulo

05/08/2010 09h35

O preço mais baixo, grande diferencial dos cursinhos populares em relação aos chamados tradicionais, é uma das estratégias adotadas por seus fundadores para possibilitar o acesso ao ensino superior dos grupos de alunos mais pobres.

 

Muitos desses cursinhos surgem com objetivo principal de colocar esses alunos nas universidades públicas, como é o caso do Pré-Vestibular da UFSC e dos cursinhos que gravitam em torno da Universidade de São Paulo, como o Cursinho da Psico e o Pró-Universidade, uma parceria entre a EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades), da Universidade de São Paulo, conhecida como USP Leste e a Fundação Tide Setubal, que atua na zona Leste de São Paulo.

Outros cursos se formam a partir de questões raciais, caso da Uneafro e da Educafro, instituições ligadas ao movimento negro. "Nosso público não tem condições de fazer um cursinho. A gente tem que ser um pouco autodidata. É um trabalho de militância", diz Nadia Tomé, coordenadora do escritório geral da Uneafro.

Também há cursinhos que surgem no contexto da política partidária: exemplo disso é a Rede Emancipa, ligada a militantes do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

 

Programação extracurricular

Por surgirem de questionamentos sociais, é comum que alguns cursinhos atuem de forma mais politizada e se articulem para além da sala de aula. A Uneafro, por exemplo, costuma fazer “aulas públicas” em locais como o centro de São Paulo sobre temas ligados à condição do negro no Brasil, como a violência e o racismo. A Rede Emancipa fez no início do ano um ato cobrando da reitoria da USP uma audiência sobre adoção de política de cotas na universidade.

Além desse caráter político, alguns cursinhos têm o diferencial de trabalhar conteúdos extracurriculares ligados ao exercício da cidadania: o Cursinho Popular, por exemplo, oferece, além do conteúdo do vestibular, atividades culturais como grupos de estudos sobre questão de gênero e América Latina, aulas de teatro, canto, apresentação de filmes e debates sobre temas atuais. Também costuma receber em seu espaço movimentos sociais como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto).

Apesar de inicialmente norteados pelo acesso à universidade pública, frente às dificuldades enfrentadas por esse tipo de cursinho, muitos acabam buscando alternativas para inserirem seus alunos no ensino superior, como, por exemplo, fazer convênios de bolsas com instituições particulares. É o caso da Educafro: “o curso tem três focos e o público opta de acordo com seu objetivo: universidades públicas que adotaram algum método de ação afirmativa; faculdades que adotaram o Prouni e, além disso, os estudantes que não obtiverem sucesso nestas duas oportunidades podem optar por parcerias que oferecem bolsas de estudo”, afirma Frei David, da Educafro. O preço do cursinho é 5% do salário do aluno.

Também simbólica é a ajuda de custo da Uneafro: R$ 20 mensais, para custeio de material didático (o cursinho adota o material de um outro popular maior, o da Poli), lanche e condução dos professores, todos voluntários. Ainda assim, há muitos estudantes que não pagam porque não tem condições, conta Anderson Lima, estudante do cursinho e coordenador de do setor de voluntariado.