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A arte moderna a muitos parece hermética ou mesmo desprovida de um sentido. Tal impressão, entretanto, talvez nasça de uma espécie de vício interpretativo, segundo o qual a obra sempre "quer dizer" algo além de si mesma e interpretá-la é descobrir o que ela oculta.

Essa aparente dificuldade de entender a arte moderna revela um observador preso a cânones inadequados para a apreensão de um novo padrão.

O que se chama de arte moderna nasceu nos primórdios do século 20, quando eclodiram na Europa os chamados movimentos de vanguarda (futurismo, cubismo, dadaísmo etc.), que significaram, à época, uma ruptura radical com o conceito de arte vigente.

O elemento figurativo, de representação da realidade, cedeu espaço ao traço metalinguístico, por meio do qual a arte se voltou para si mesma e pôs em marcha a reavaliação de suas potencialidades.

No quadro cubista "O Bilhar", de Braque, aquilo que, à primeira vista, parece um objeto deformado, é, na verdade, a fusão de diferentes pontos de vista numa mesma tela.

No dadaísmo, os artistas retiravam objetos de seu contexto de utilidade e, dessa maneira, conferiam-lhes o estatuto de arte. É o caso da "Roda de Bicicleta", assinada por Marcel Duchamp. Gestos radicais apontaram novos caminhos para a arte, que incorporou o conceito de intenção.

Se a tradição ocultou a forma e privilegiou o conteúdo da obra de arte, a modernidade fez exatamente o inverso. A harmonia das imagens ou a perícia do artista na reprodução da realidade deram vez à explicitação dos elementos e das técnicas, num processo de recombinação de informações e de constante diálogo com a tradição.

Assim, a arte contemporânea, como a arte moderna, fechada à fruição espontânea, convida o espectador à reflexão.