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Literatura -

 

Manuel Antônio de Almeida
17/11/1831, Rio de Janeiro, RJ
28/11/1861, litoral do Rio de Janeiro, proximidades de Macaé
Apesar da breve existência, Manuel Antônio de Almeida escreveu um dos melhores romances brasileiros: Memórias de um sargento de milícias. Segundo Antonio Candido, "é quase incrível que, em 1851, um carioca de vinte anos conseguisse estrangular a retórica embriagadora, a distorção psicológica, o culto do sensacional, a fim de exprimir uma visão direta da sociedade de sua terra". Fugindo dos excessos românticos da época, Manuel Antônio de Almeida, no entanto, pagou o preço da sua extemporaneidade: apesar do sucesso junto ao público, foi ignorado pela crítica.
Vida e obra

Formado em medicina, sempre foi aluno medíocre e nunca exerceu a profissão: desde cedo atuou como jornalista, depois funcionário público, frequentando as rodas literárias. Faleceu aos 30 anos, a bordo do “Hermes”, navio que naufragou no litoral fluminense, quando morreram 37 passageiros. Memórias de um sargento de milícias foi publicado, entre junho de 1852 e julho de 1853, no suplemento semanal “Pacotilha”, do jornal Correio Mercantil, o mais importante da Corte. A edição em livro viria no ano de 1854, ainda sem a assinatura do autor, que só apareceria na 3ª edição, em 1863. Amador anônimo, sem responsabilidade em face da moda reinante, Manuel Antônio de Almeida contou episódios que lhe foram narrados por um companheiro de tipografia, antigo sargento de polícia sob as ordens do famoso major Vidigal, personagem-chave no enredo da obra. O escritor também deixou crônicas, crítica literária e artigos diversos, que foram reunidos por Bernardo de Mendonça, no início da década de 1990, no volume Obra dispersa.

Principal (e única) obra: Memórias de um sargento de milícias
Características
Na opinião de Paulo Rónai, Memórias de um sargento de milícias não é um “fenômeno de realismo antecipado, mas de realismo arcaico: uma narrativa inspirada nos romances de cunho picaresco dos séculos 17 e 18”. Sem a amplificação retórica e a fraseologia idealista de José de Alencar, o autor transforma seu romance numa dessas raras manifestações extemporâneas de brilhantismo literário. É uma obra divertida, livre dos exotismos românticos, na qual os protagonistas se envolvem em sucessivas peripécias. Circundando o amor de Leonardo e Luisinha, surgem festas, brigas, procissões, etc., sempre num clima de humorismo e quase amoralidade que se adéqua ao estilo coloquial, direto. Reprodução - Johann Moritz Rugendas, costumes do Rio de Janeiro, 1823.
Para Otto Maria Carpeaux, Manuel Antonio de Almeida é um tipo de Debret literário do Rio de dom João 6º, hábil na descrição dos costumes populares urbanos, com um espírito jocoso a que está subjacente um irônico desencanto.
Curiosidades
Quando ocupou o cargo de administrador da Tipografia Nacional, em 1857, Manuel Antônio de Almeida conheceu, nessa repartição pública, o jovem Machado de Assis, à época um desatento tipógrafo que andava lendo pelos cantos. O autor de Memórias de um sargento de milícias o protegeu e ajudou.
Antes de trabalhar na Tipografia Nacional, Manuel Antônio de Almeida foi indicado como diretor da Imperial Academia de Música e Ópera Nacional, para a qual compôs, inspirado em Byron, o libreto Dois amores, para ópera em três atos.