Literatura -
25/11/1845, Póvoa de Varzim, Portugal 16/08/1900, Paris, França | Advogado, jornalista, diplomata, amante das viagens e escritor, Eça de Queirós começa sua carreira de ficcionista sob a influência romântica, lendo Almeida Garrett, mas logo depois adere ao Realismo, ao lado de Antero de Quental e Teófilo Braga. Em 1871, participa das famosas Conferências do Casino, proferindo a quarta conferência: “A nova literatura ou O realismo como nova expressão da arte”. Espirituoso, feroz e anticlerical, Eça possui inigualável veia satírica e mordacidade, além de ser hábil caricaturista. Sua ironia chega a ser cáustica, demolidora. Segundo Miguel de Unamuno, poucos souberam, como Eça Queirós, ensinar “a verdade de cada dia e a ilusão da eternidade”. |
Vida e obra |
O agudo senso de observação deu a Eça de Queirós o posto de renovador da ficção portuguesa. O escritor firma sua reputação graças a O crime do padre Amaro (1875). Logo depois, em 1878, publica O primo Basílio, influenciado pela leitura do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Depois de ter atuado no jornalismo, inclusive como diretor do diário Distrito de Évora, suas principais realizações da maturidade, em meio às viagens próprias da carreira diplomática, serão Os maias (1888) - drama de amor incestuoso, percurso biográfico de uma família de classe média e síntese da história portuguesa no século 19 - e A ilustre casa de Ramires (1900), retrato da vida decadente de uma fidalguia perplexa diante das mudanças inevitáveis. Desmistificador das hipocrisias e moralista consciente de quão relativos são os costumes sociais, Eça renovou o português literário, impondo a Portugal (e também ao Brasil) um estilo que, desprezando a riqueza lexical, optou por usar a língua corrente em Lisboa (inclusive no que se refere à sintaxe). |
Principais obras: A relíquia, Os maias, A ilustre casa de Ramires, Correspondência de Fradique Mendes e A cidade e as serras. |
Características | |
A objetividade do romancista Eça de Queirós também é peculiar: consiste em ver ou sentir as coisas por meio de personagens interpostas, isto é, por meio de subjetividades que ele constrói. Será o artifício usado para elaborar seu romance póstumo, A cidade e as serras (1901) - na verdade, um desenvolvimento do conto “Civilização” -, publicado graças ao seu grande amigo, Ramalho Ortigão. Nele, o narrador, José Fernandes, que deprecia a vida nos centros urbanos, relata a história do protagonista, Jacinto Galião. Fernandes mostra como Jacinto, rompendo com o passado rural, se deteriora, física e moralmente, na cidade, até que, voltando-se às serras portuguesas, acabará se regenerando em estreito contato com a natureza. | |
O romance, na opinião de António José Saraiva, se antecipa ao movimento ecologista, criticando as mudanças que já anunciavam o século 20 na Europa. Apesar de certa ternura, o livro ainda apresenta o mesmo Eça de Queirós, pleno de senso crítico, ceticismo e afiadíssima sensibilidade. |
Curiosidades |
Filho ilegítimo (seus pais se casariam apenas quatro anos depois do seu nascimento), Eça de Queirós foi levado, assim que nasceu, à casa de uma ama, em Vila do Conde, onde permaneceu durante quatro anos. A separação da mãe ocorreu por causa do pai, que, temendo as reações da sociedade - e para evitar problemas em sua carreira de magistrado -, tentou ocultar o nascimento da criança. Em 1870, no início da carreira diplomática, Eça de Queirós classificou-se em primeiro lugar no concurso para o posto de cônsul na Bahia, mas, por razões políticas, foi preterido em favor do segundo colocado. |
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