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História geral

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A Guerra Civil Espanhola é o símbolo de uma luta global da década de 1930. Coloca de um lado a democracia e a revolução social; do outro, a contra-revolução e a reação.

A Espanha, embora dentro do continente europeu, era um país periférico. Sua história estava fora do compasso do resto da Europa. Em 1931, um grupo de liberais anti-clericais e maçons, no estilo do século 19, proclama a República. Bem intencionados, promovem uma Constituinte, cujo resultado é insatisfatório para as correntes extremistas.

A fermentação social é intensa nos campos e nas cidades. O leque esquerdista, que vai desde o moderado PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) até a ultra-esquerda anarquista, cuja ação revolucionária transgride os limites constitucionais, exige reformas, principalmente a agrária, já que 1% dos proprietários detém 51,5% de toda a terra.

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Francisco Franco e o então príncipe Juan Carlos, em 1971

A lentidão da direita liberal levanta uma onda anarquista de greves, atentados à bomba, assaltos a quartéis e ocupação de prefeituras nas regiões de Valência e Catalunha. Isso apavora a ultra-direita, composta por monarquistas, católicos conservadores, grupos pequenos de tendência fascista como a Falange Espanhola e militares direitistas.

O estopim do conflito é o resultado das eleições de 1936. A esquerda, no embalo das coligações anti-fascistas, mirando o exemplo francês, formou a Frente Popular. O programa da coalizão inclui a anistia geral, a aplicação da reforma agrária e do estatuto de autonomia da Catalunha, a modificação das leis Municipal , Provincial e da Ordem Pública, e a ampliação do ensino público primário e secundário.

A vitória esquerdista é apertada, com 4.654.116 votos contra 4.503.524 dos direitistas. Os centristas fizeram 526.615 votos. A Espanha estava dividida.

Os setores ultraconservadores se aliam e buscam uma solução extralegal, diante da possibilidade de reformas progressistas. Optaram pelo golpe de Estado, comandado pelos setores conservadores do Exército. Essa fórmula surrada teria chances se houvesse um distanciamento das massas, ou se o governo tivesse perdido a sua legitimidade. Não era, naquele momento, o caso espanhol.

O golpe se inicia na África, no Marrocos espanhol, em 17 de julho de 1936, onde está um contingente de 30 mil homens, mais 12 mil marroquinos sob ordens espanholas. No dia seguinte, o general Francisco Franco rebela-se nas ilhas Canárias, toma um avião e, no dia 19, assume o comando marroquino. Desde o início, o futuro Caudillo por gracia de Dios conta com a colaboração da Alemanha nazista e da Itália fascista que o ajudam no transporte das tropas da África para a Espanha.

O sucesso africano não se repete nas principais cidades espanholas. Só Sevilha é controlada. Os grandes núcleos industriais, principalmente Madri e Barcelona, repelem os golpistas, a partir de uma resistência sustentada pelos militantes dos partidos esquerdistas e das centrais sindicais aliados aos militares legalistas. O governo republicano constitucional não controla a situação.

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"Guernica", de Pablo Picasso

Comitês se organizam nas cidades, para controlar a justiça e a polícia. Cada partido ou sindicato organiza patrulhas de controle e promove prisões. A persistência de ambos os lados transforma a tentativa de golpe em guerra civil.

Em 10 de outubro de 1936, uma junta de militares golpistas nomeia Franco chefe do governo do Estado e generalíssimo dos exércitos, oficializando-o como cabeça da insurreição, apoiado por uma colcha de retalhos direitista batizada como Falange Tradicionalista Espanhola.

A luta apenas começava. Nesse ponto, toma corpo a discussão internacional sobre o conflito. Nazistas e fascistas fazem da Espanha um laboratório de testes, enviam tropas, armas, munições e suprimentos em geral. Grã-Bretanha e França fazem um ingênuo acordo de não intervenção buscando deter o auxílio ítalo-germânico. A URSS ratifica o acordo, porém através da Internacional Comunista organiza as Brigadas Internacionais, das quais participam cerca de 40 mil jovens estrangeiros, originários de mais de 50 países, que lutam pela República.

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Ingrid Bergman em "Por quem os sinos tocam"

Todavia, por trás desse delírio de solidariedade, o ditador soviético Stálin só entrega armas à República se os comunistas pró-URSS dominassem as ações militares esquerdistas. Isso provoca uma batalha entre as esquerdas, travada nas ruas de Barcelona, entre 3 e 8 de maio de 1937, com aproximadamente 500 mortos e 1000 feridos, na qual os anarquistas e o Poum (Partido Operário de Unificação Marxista), são desarticulados. Barcelona é um dos laboratórios do terror stalinista.

A guerra prossegue até a ocupação das grandes cidades pelos nacionalistas da Falange. Para atingir esse objetivo, Franco isola o território republicano do Atlântico. É durante a execução desse plano que ocorre, em abril de 1937, o bombardeio da cidade basca de Guernica, pela aviação nazista. A representação dos horrores desse ataque é imortalizada em tela por Pablo Picasso, numa das obras de arte mais significativas do século XX. Esse bombardeio deixa 1654 mortos e 900 feridos.

A vitória franquista afasta do país artistas e intelectuais. Os pintores Pablo Picasso e Salvador Dalí, o cineasta Luís Buñuel e o violoncelista Pablo Casals viveram no exílio. O poeta Federico Garcia Lorca foi fuzilado por um pelotão falangista.

A paixão pela luta republicana produziu uma vasta literatura de ficção. A mais famosa é "Por Quem os Sinos Dobram", de Ernest Hemingway, transformada em filme estrelado por Gary Cooper e Ingrid Bergman; mais recente é Terra e Liberdade, do inglês Ken Loach.

A Guerra Civil Espanhola é um aperitivo daquilo que aconteceria na Segunda Guerra Mundial, a partir de setembro de 1939. A Espanha continuou isolada em relação ao mundo até a morte de Franco, na década de 1970, quando, de acordo com seu próprio desejo, o governo foi entregue aos Bourbons, família real espanhola conduzida pelo rei Juan Carlos. Portanto, só na década de 1980 o Estado espanhol entrou para o século XX, ao se integrar ao Mercado Comum Europeu.

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