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História do Brasil

História do Brasil -

Segundo Marx, os grandes fatos da história se repetem. Na primei­ra vez, como tragédia; na segun­da, como farsa. É certo que, em tempos de consumo de novida­des, o ilustre filósofo alemão não goza mais do prestígio de outrora.

Ainda assim, suas palavras são oportunas para a análise de acontecimentos recentes.

Em abril do ano 2000, ocorreram as comemorações dos 500 anos do Descobrimento do Brasil. A grande festa foi organizada na Ba­hia e contou com a presença dos presidentes do Brasil e de Portu­gal. O papa João Paulo 2º enviou telegrama de felicitações. As emissoras de TV de todo o mun­do noticiaram os festejos. Mas nem tudo saiu como o previsto.

Estudantes, sem-terra, ativistas do movimento negro e lideranças indígenas aproveitaram a ocasião para expressar suas críticas ao go­verno e à sociedade brasileira.

Defensora da ordem, a PM baia­na recebeu os manifestantes com bombas de gás, cassetetes e blo­queios nas principais estradas de acesso a Porto Seguro. O que se viu foi uma profusão de cenas de índios, negros e brancos espanca­ dos e presos pelos policiais.

Em meio à missa que relembra­ va a primeira de 500 anos atrás, um índio pataxó conseguiu fazer um discurso contundente: "Fo­ram 500 anos de sofrimento, mas­sacre, exclusão, preconceito, ex­ploração, extermínio de nossos parentes, aculturamento, estupro de nossas mulheres e de devasta­ção de nossas terras, de nossas matas, que nos tomaram com a invasão". Uma verdadeira aula de história.

Por trás da formulação Desco­brimento do Brasil encobrem-se conceitos equivocados. Não há descobrimento, pela obviedade de que os nativos já conheciam es­sa terra. Mais grave ainda, não ha­via Brasil, e sim colônias portu­guesas na América.

Só a partir de 1774 as regiões de São José do Rio Negro, Grão-Pará e Maranhão passaram a fazer parte do então vice-reino do Brasil, com capital no Rio de Janeiro.

Melhor falar em conquista colo­nial, continuação da Reconquista ibérica, que inaugura uma cres­cente economia mundial assenta­da em trocas mercantis entre os continentes. E que funda também a história universal, ligando irre­versivelmente os destinos parti­culares de todos os povos a um destino comum, num longo pro­cesso que resultará na montagem dos Estados nacionais, entre os quais o Brasil, e no surgimento do capitalismo.

Mesmo deslocada de seu con­texto original, vale lembrar uma outra célebre frase de Marx: "A tradição de todas as gerações mortas pesa sobre o cérebro dos vivos como um pesadelo".

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