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2º dia da Fuvest teve dificuldade alta em exatas e David Bowie em história

Eduardo Anizelli/Folhapress
Imagem: Eduardo Anizelli/Folhapress

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

08/01/2018 21h49Atualizada em 09/01/2018 16h32

Conhecido por sua interdisciplinaridade, o segundo dia da Fuvest, que seleciona candidatos para a USP (Universidade de São Paulo), surpreendeu pelo nível de dificuldade em física e matemática. As questões, no entanto, deixaram a desejar no quesito inovação, segundo a avaliação de professores ouvidos pelo UOL.

Os docentes apontaram ainda que a parte de exatas cobrada nesta segunda (8) exigiu dos candidatos conhecimentos mais aprofundados, que geralmente são cobrados no terceiro e último dia da segunda fase –quando os alunos devem responder às questões específicas, de acordo com a carreira escolhida.

“As questões se assemelharam às que geralmente aparecem no terceiro dia. Não houve qualquer inovação: pouquíssima ou nenhuma contextualização dos temas cobrados”, disse Célio Tasinafo, coordenador pedagógico da Oficina do Estudante.

Para Daniel Perry, coordenador do Curso Anglo, as questões foram mais ‘técnicas’ e exigiram muito preparo dos candidatos. “Foi uma prova de segundo dia mais difícil que anos anteriores. Uma prova mais tradicional, menos contextualizada”, disse Daniel Perry, coordenador do Curso Anglo.

Giuseppe Nobilioni, professor de matemática do Curso Objetivo, pontuou: “Todas essas questões seriam boas para o dia de amanhã. Eram perguntas diretas, só que a execução não era nada fácil”, disse.

Questão 6 Fuvest - Reprodução/UOL - Reprodução/UOL
Imagem: Reprodução/UOL

A questão 6, para ele, foi exemplo disso. Com um enunciado de três linhas, o exercício pedia para que o candidato calculasse a área disponível para que uma égua pastasse em um polígono regular de n lados, ou seja, de número indefinido.

“A pessoa quando vai fazer o desenho já se atrapalha, tem que fazer um polígono, colocar reticências... Fazer contas literais, em função do n. Não era fácil para os alunos”, disse.

Ricardo Helou Doca, professor de física do Curso Objetivo, destacou a questão 15, que tratou de um tema extremamente atual: a detecção de ondas gravitacionais por três cientistas americanos, que inclusive ganharam o Prêmio Nobel de Física em 2017 pelo feito.

A questão, segundo o professor, tinha um enunciado extenso e trazia uma série de dados que não eram fáceis de serem interpretados pelo candidato.

Questão 15 Fuvest  - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

“No item A, o aluno precisava calcular o intervalo de tempo a partir do conhecimento de movimento uniforme, ou seja, que velocidade é distância sobre tempo. A dificuldade era decifrar o enunciado, ou seja, saber que a onda eletromagnética se propaga em movimento uniforme”, explicou.

“É um tema bonito, moderno, mas o aluno tinha que ter um conhecimento prévio para decodificar todos os dados contidos no enunciado”, disse.

Muita interpretação

Mantendo o nível de dificuldade da prova de língua portuguesa, aplicada na tarde de domingo (7), a prova de inglês exigiu apenas interpretação dos candidatos, segundo os professores. O vocabulário, que poderia ter sido um ponto de dificuldade, para eles não foi nada surpreendente.

“Eram textos curtos, com vocabulário simples”, disse Fernando Rodrigues, do Cursinho da Poli.

“Os gêneros textuais variaram um pouquinho. Antes costumavam trazer texto jornalístico ou poesia, esse ano trouxeram um infográfico e um tipo de texto informativo, o que não é muito comum na Fuvest”, pontuou o professor Alexander Brunhara, do Curso Objetivo.

Um texto em inglês apareceu, inclusive, em uma questão de história. Foi a questão de número 9, que trazia a letra da música “Space Oddity”, de David Bowie. Elogiada pelos professores, ela falava sobre guerra fria e corrida espacial.

Questão 9 Fuvest - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

“Foi uma bela prova, sofisticada, mas que não cobrou nada muito específico. As questões exigiam habilidades de interpretação de textos, leitura de mapa”, opinou o professor Perry sobre as questões de história.

Enquanto inglês e história foram misturadas em uma questão, biologia e química tiveram seu momento conjunto em outra: foi o exercício 13, que falava da pressão de oxigênio em La Paz, na Bolívia.

Segundo os professores, bastava o aluno lembrar que, quanto maior for a altitude, menor será a pressão atmosférica e, consequentemente, menor a quantidade de oxigênio disponível. “Vão ser produzidos mais glóbulos vermelhos, e com isso mais hemoglobina para manter o nível de respiração”, explicou o professor Sérgio Teixeira Bignardi, do Curso Objetivo.

“O fundamental para o aluno era essa capacidade de leitura, de interpretação, elencar e selecionar dados e saber o que fazer com eles. É claro que [a prova] cobrou conhecimento prévio, mas o principal era a questão do saber fazer, e não a memória”, pontuou o professor Rodrigues.

Abstenção

Segundo a Fuvest, 8,1% dos candidatos não compareceram hoje aos locais de prova. Esse é o menor índice de abstenção no segundo dia de provas do concurso desde 2009.

A cidade de Franca, no interior do Estado, registrou o maior número de faltantes: 12,11% dos candidatos não fizeram as provas. Em São Paulo, a abstenção foi de 8,22%.

O terceiro e último dia de provas acontece amanhã (9), com 12 questões de matérias específicas, de acordo com a carreira escolhida pelo candidato.

A primeira lista de aprovados deve ser divulgada no dia 2 de fevereiro.