Aluna é expulsa da Uerj por fraude em sistema de cotas sociais

Gustavo Maia
Do UOL, no Rio de Janeiro

Uma estudante que cursava administração na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) foi expulsa por ter fraudado o sistema de cotas sociais da instituição.

Segundo a procuradora para assuntos acadêmicos da Procuradoria Geral da Uerj, Letícia Binenbojm, que assinou o parecer que comprovou a fraude, concluído neste mês, a aluna havia declarado informações socioeconômicas falsas ao se inscrever no processo seletivo da universidade estadual.

"Ela tentou forjar o valor mensal da renda familiar e por isso teve a matrícula cancelada", explicou Binenbojm. A procuradora informou que o processo é sigiloso e que, por esta razão, o nome da estudante não pode ser divulgado.

A procuradora informou que o nome da aluna constava em denúncia do MP-RJ (Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro), que gerou a abertura de uma sindicância para averiguação dos fatos.

De acordo com Letícia Binenbojm, quando se inscreveu no vestibular 2013, a estudante declarou que morava com a mãe e que recebia uma pensão de R$ 950 do pai, que estaria separado da mulher e morando na casa de amigos. Na época, a renda mensal máxima por pessoa permitida para ter acesso ao benefício era de R$ 960.

"Após a denúncia, assistentes sociais da Uerj foram até a casa da aluna, no endereço que ela informou, e descobriram que os pais ainda moravam juntos, em um condomínio no bairro de Campo Grande [zona oeste do Rio]", contou a promotora.

Segundo ela, a casa estava em ótimo estado de conservação, tinha dois andares, com duas varandas no andar de cima e aparelhos de ar-condicionado em cada um deles. O imóvel também possui quintal com varanda, área de lazer e piscina. O carro da família é da marca francesa Peugeot.

Outra informação falsa dada pela estudante foi desmascarada durante a sindicância da Procuradoria Geral da Uerj: o pai da aluna não era isento do imposto de renda e nem dependia apenas de quantia recebia pelo INSS, como declarado no processo seletivo.

A procuradora informou que a estudante será notificada a devolver os R$ 6.400 que recebeu como bolsa permanente entre abril de 2013 e julho de 2014 aos cofres públicos. "Verbas foram alocadas para implementação do sistema de cotas da universidade e, como houve irregularidade, devem ser ressarcidas", declarou.

Binenbojm disse ainda que recomendou o encaminhamento do processo administrativo da Uerj ao MP-RJ, que deverá tomar as devidas medidas criminais.

Em janeiro deste ano, um aluno de medicina da Uerj foi expulso pela mesma fraude. O Ministério Público Estadual também investiga o caso. 

Mudanças no vestibular 2015

Para evitar a ocorrência de novas fraudes envolvendo o sistema de cotas no processo seletivo da Uerj, a Procuradoria Geral da instituição elaborou, em parceria com o MP-RJ, novas cláusulas que serão incluídas pela primeira vez no edital do vestibular 2015.

Segundo a procuradora para assuntos acadêmicos, uma das mudanças será a inclusão de um alerta informando que a declaração de informações falsas pode acarretar não apenas em punições administrativas, como o cancelamento da matrícula, mas também em sanções penais e civis.

Outra novidade será que o aluno, além de fazer a autodeclaração, terá que preencher campos elencando motivos pelo qual ele se considera parte de uma etnia --se é por conta de características físicas, da origem familiar ou alguma outra, que terá que ser especificada. Estes critérios são os mesmos utilizados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nos censos.

"Esperamos que essas medidas sirvam para diminuir essas fraudes e para nos ajudar a verificar a veracidade das denúncias que são feitas pelo MP-RJ e pelos alunos", explicou Letícia.