Foi difícil passar no vestibular com ensino público, diz calouro da UFABC

Bruna Souza Cruz
Do UOL, em São Paulo
Arquivo pessoal
Marlon Lopes Leal, aprovado na Federal do ABC

Superar a diferença entre o conteúdo aprendido na escola pública e o cobrado nos vestibulares das melhores universidades foi o grande desafio enfrentado por Marlon Lopes Leal, 19.

Após quase um ano em um cursinho popular, o jovem egresso da rede estadual foi aprovado em ciências e humanidades na UFABC (Universidade Federal do ABC) por meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada).

"Em minha vida eu só estudei em escola pública e ao longo do cursinho senti dificuldades com relação ao conteúdo das aulas. Muita coisa eu não tinha visto na escola. Notei que é muito grande a defasagem", conta Marlon. "Adaptar-se ao intenso ritmo de estudo, organização de horários para estudos também foi bem difícil."

Segundo ele, as "lacunas educacionais do ensino público" foram sanadas com a ajuda de professores e plantonistas do Cuja (Cursinho pré-vestibular Jeannine Aboulafia), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). O cursinho popular conta com alunos da Unifesp que são professores voluntários e cobra R$ 75 de mensalidade.

O  incentivo dos pais para cursar o ensino superior também foi essencial durante a preparação de Marlon. "Meu pai possui ensino médio e minha mãe possui ensino fundamental incompleto. Eles sempre me apoiaram para que eu estudasse, conquistasse meus sonhos através do diploma", diz. "Quando vi meu nome na lista de aprovados da UFABC, meus olhos brilharam, meu coração transbordou com o sentimento de felicidade", lembra o jovem.

Colega de cursinho

Para Alex Humberto Alves Restani, 19, o sonho custou um tanto mais para se realizar. Ele precisou de dois anos de cursinho - também no Cuja -- para se tornar aluno em biomedicina na Unifesp.

Durante a preparação para as provas, os dois vestibulandos procuraram dividir bem o tempo de estudos, cada um com suas particularidades.

Alex procurava estudar todos os dias após o almoço e só saia pouco antes do início de suas aulas no cursinho, às 18h50. "Essas seis horas de estudo eram tão importantes quanto o tempo em aula", diz.

Já Marlon, teve que se dividir durante seis meses entre o cursinho e as aulas do ensino técnico em administração, na Etec (Escola Técnica Estadual) São Mateus (SP). "Foi muito estressante. Sobrava pouco tempo para estudar as matérias do cursinho, tinha dia em que eu estudava no ônibus. Quando terminei a Etec consegui estabilizar uma rotina de estudos, estudava em torno de 4 horas por dia, mas acho que poderia ter melhorado esse ritmo de estudos", relembra.