Em vídeo um estudante registra que virou, de uma só vez, 500 ml de cerveja e publica no Facebook desafiando outros três colegas a fazer o mesmo. A  polêmica brincadeira com o nome de "Neknomination", que teria surgido na Austrália, começa a ganhar a adesão de universitários em Ouro Preto, na região central de Minas Gerais.

O desafio acontece entre calouros e veteranos da Ufop  (Universidade Federal de Ouro Preto) e teria começado há cerca de duas semanas. 

Os vídeos, com duração média de 50 segundos, mostram jovens bebendo grandes copos de cerveja em poucos segundos, num único fôlego. "A brincadeira todo mundo já sabe, né? Bora inundar esse Facebook com cerveja! Valeu por ter me indicado pra essa brincadeira super educativa, ta aí o desafio completo", registrou uma aluna em seu perfil pessoal.

Opiniões divididas

"Final de período 'tá garrado' e a galera está que vira 500 ml de cerveja", postou um universitário que aceitou o desafio e exibiu o vídeo com os "bastidores" ao lado de três amigos com jarras de cerveja. O jogo divide opiniões entre os próprios universitários. 

Uma estudante gravou um vídeo (que você pode assistir aqui) criticando a brincadeira, que chamou de "ridícula": "Não acho isso legal para a nossa imagem, que estamos tentando mudar há mais de um ano. Agora, vem alguém e começa com essa corrente babaca e faz um monte de gente virar uma grande quantidade de cerveja para mostrar que a gente consegue beber isso", diz.

Na gravação, a jovem pede desculpas à amiga que a indicou para cumprir o desafio e faz um apelo aos colegas para que não continuem com a brincadeira. "Não podemos esquecer o que já aconteceu com a gente, coisas ruins, tragédias com estudantes da Ufop e que não podemos simplesmente esquecer e achar que as nossas vidas voltaram ao normal. Vamos refletir um pouco no que estamos fazendo", afirmou.

Histórico

A tragédia a que ela se refere é a morte de dois universitários, no final de 2012, atribuídas ao consumo de bebidas alcoólicas em repúblicas. A primeira vitima foi um estudante de artes cênicas, encontrado morto no dia 27 de outubro, no quarto da pensão onde vivia em Ouro Preto.

Dois meses depois, outro universitário, de 25 anos, que cursava química industrial morreu após passar mal em uma república estudantil. Nos dois casos, os jovens haviam participado de festas regadas a bebida alcoólica.

No caso da cidade histórica, a brincadeira é levada mais a sério considerando que os universitários lideram o ranking da bebedeira, segundo uma pesquisa feita em 2011. Conforme pesquisa da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), nenhuma universidade federal consome mais álcool e tabaco que a de Ouro Preto. Enquanto a média nacional de uso de álcool na pesquisa é de 14%, na Ufop, 29,18% de seus estudantes de graduação declararam beber "periodicamente" ou "sempre", apontou o levantamento.

Sem repercussão

Procurado pela reportagem, o atual presidente da Arrop (Associação das Repúblicas Reunidas de Ouro Preto), Otávio Gomide da Costa, disse não haver um posicionamento da entidade sobre esses vídeos, uma vez que "o assunto em questão ainda não havia tido qualquer repercussão na comunidade".

Apesar disso, ele fez questão de destacar que a "entidade não incentiva nenhum tipo de abuso de bebida alcoólica". Segundo ele, "esses vídeos estão ocorrendo em todo o país e, por enquanto, não temos discussão sobre esse assunto", disse.

Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a Ufop informa que, mesmo contrária a ações que induzem o consumo de álcool, "não se coloca na posição de vigiar ou censurar vídeos virais que, após surgirem de maneira espontânea na internet, em nível internacional, chegam até os estudantes da universidade, sem que se possam identificar responsáveis pela sua origem ou criação".

Dentro de "sua competência", a universidade informa que vem trabalhando a fim de conscientizar, educar e orientar os estudantes acerca de suas responsabilidades. "No que tange ao consumo de álcool e outras drogas, a atuação da universidade é proativa, buscando sempre o diálogo e a formação crítica dos estudantes. A universidade reconhece que o consumo de álcool e outras drogas é um problema que deve ser tratado em diversas instâncias da sociedade, ressaltando, assim, que em seu âmbito institucional-acadêmico, tem papel não de policiar e sim de educar, conscientizar e orientar", diz a nota.

O presidente do DCE-UFOP (Diretório Central Estudantil), Diogo Nogueira, não foi localizado antes do fechamento desta matéria para comentar o assunto.