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Estudantes chegam a rasgar lista de presença para garantir vaga após vestibular na Ufopa

Cristiane Capuchinho

Do UOL, em Santarém

15/04/2013 06h00

O vestibular da Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará) não seleciona diretamente para as graduações que oferece. O sistema inclui, pelo menos, seis meses de matérias interdisciplinares para que o calouro se classifique para o instituto desejado. A escolha do curso demora outros seis meses, no mínimo.

 

Mesmo já nos bancos do ensino superior, o clima nas aulas dos primeiro anistas é de competição. Os estudantes ouvidos pelo UOL relatam que uma das principais consequências é que não há sentimento de grupo. Alguns alunos se recusam a fazer trabalhos em grupo, não repassam mensagens de professores e chegam a rasgar a lista de frequência. O objetivo é prejudicar seus colegas-concorrentes. 

Aluno-bolha

Sem possibilidades de que todos os estudantes que entram em busca de uma vaga nos cursos mais disputados consigam seu lugar, o sistema cria o que é conhecido por “aluno-bolha”. Esse é o nome dado aos estudantes que não conseguem vaga no instituto ou no curso que desejam e decidem fazer novamente o CFI (Ciclo Fundamental Interdisciplinar) ou se candidatam a transferências internas na universidade.

 

 

Esse estudante poderá por três vezes fazer o CFI, aumentando a lotação das salas de aula do ciclo básico, ou ocupará uma cadeira em um curso que não deseja seguir enquanto aguarda sua aprovação no curso preferido.

Curso sem nenhum aluno

Outra reclamação recorrente é a criação de cursos novos, interdisciplinares, porém que, segundo os professores, não tinham Projeto Pedagógico de Curso prévio que esclarecesse o que são e qual profissional será formado por ele. A universidade oferece cursos como o bacharelado interdisciplinar em biotecnologia ou o bacharelado interdisciplinar em ciências agrárias, que dá acesso aos cursos de agronomia e engenharia florestal.

 

“Ainda não sabemos se esses cursos serão reconhecidos pelo MEC ou se o de engenharia, por exemplo, será aceito pelo CREA [Comissão Regional de Engenharia e Agronomia]”, preocupa-se Hudson Melo, aluno e membro do DCE (Diretório Central dos Estudantes).

 

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As licenciaturas são um capítulo à parte na discussão. O modelo de licenciatura integrada em matemática e física, em biologia e química ou em história e geografia é questionado por professores do programa. Na avaliação de alguns deles, a licenciatura em duas disciplinas não garantiria tempo para uma formação razoável em nenhuma das duas áreas.

 

Sem Plano Pedagógico de Curso pronto, os alunos da licenciatura integrada de história e geografia, por exemplo, não sabem quais são as disciplinas que deverão cumprir até o término do curso. A cada semestre, os docentes se reúnem para debater o que deverá constar no quadro de aulas do próximo período letivo.

 

A validade do diploma é também questão importante. “O aluno sairá sem uma licenciatura plena. Esse diploma será aceito em um concurso depois? Não temos como responder. Tem alunos que, na dúvida, estão indo para universidades privadas da região”, afirma o professor Aguinaldo Rodrigues Gomes.