Mais baratos, cursinhos populares são opção para vestibulando sem dinheiro

Elisa Estronioli
Em São Paulo

Alguns são gratuitos, outros têm preços bem abaixo do mercado tradicional. Podem contar com professores voluntários ou remunerados. Terem material didático próprio ou não. Mas o que permite classificar um cursinho pré-vestibular como "popular" é o fato de ser uma alternativa para estudantes sem condições de pagarem um cursinho "normal". Enquanto no primeiro caso o curso pode até ser de graça, as opções mais famosas podem ter mensalidades que beiram R$ 1.000.

 

"Em geral, os cursinho populares não são uma alternativa, mas, sim, a única alternativa que possuem certas pessoas para continuarem seus estudos. O que é uma lacuna do setor público frente à necessidade dos estudantes", diz Álvaro Chrispino, professor do CEFET-RJ e especialista no tema ensino médio. Os estudantes desse tipo de pré-vestibular costumam vir de escolas públicas e estão em desvantagem na disputa pela vaga no ensino superior.

 

Apesar das várias diferenças, um ponto em comum nesse tipo de cursinho é ter um perfil mais engajado, já que surgem com o objetivo de inclusão dos estudantes mais pobres. "Nosso objetivo é democratizar o acesso à universidade pública", afirma Robson Muraro, coordenador do Cursinho Popular, mantido pela Acepusp (Associação Cultural de Estudantes e Pesquisadores da Universidade de São Paulo). O cursinho, que não é vinculado institucionalmente à USP, atende cerca de 300 alunos (em salas de até 50). De acordo com o coordenador, o preço máximo da mensalidade fica em R$156.

 

Para Chrispino, os populares têm algumas limitações estruturais e pedagógicas: "o curso alternativo, em geral, tem o professor que é possível, que pode inclusive ser voluntário e ocupa um espaço físico que lhe é possível, como locais comunitários, espaços públicos cedidos, templos religiosos. Não possui facilidades para preparar material impresso de apoio às aulas, estrutura os horários a partir de todas essas variáveis e está em locais mais próximos das comunidades que se propõe a auxiliar. Também não cobra [mensalidade] por conta do perfil dos estudantes, e, se cobra, é um valor reduzido, o que dificulta a estruturação".

 

Já o cursinho tradicional, "é preparado para oferecer condições de disputa. Logo, oferece professores "especialistas" em provas e em solução de problemas de concurso. Oferecem material impresso especifico para cada tipo de vestibular", na opinião de Chrispino.

 

De graça

Também há cursinhos populares que são completamente gratuitos, como o Pré-Vestibular da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), em Santa Catarina, com unidades em 19 cidades do Estado. A gratuidade é garantida por verba pública da UFSC e da secretaria estadual de educação de Santa Catarina. Seu foco é colocar estudantes pobres nas universidades públicas do Sul do Brasil -- e tem conseguido: no vestibular de 2010 comemorou a aprovação de dois alunos no vestibular de medicina da UFSC, feito que costuma ser utilizado nas propagandas dos chamados cursinhos tradicionais. O estudante, no entanto, é pré-selecionado: precisa ser egresso de escola pública, não pode estar cursando ou ser formado em algum curso superior, deve ter um bom histórico escolar e pertencer a família de baixa renda.

 

Nos cursinhos em geral, não há seleção do tipo quando há vagas disponíveis. Se a procura for maior que a oferta, o principal critério de seleção é o sócio-econômico. É o que acontece no Cursinho da Psico, ligado à Faculdade de Psicologia da USP, que realiza entrevistas com os interessados. Durante a conversa, o entrevistador levanta informações sobre renda, escolaridade e "empenho" do candidato a uma vaga no pré-vestibular.

 

Preços baixos

Dentro do conceito de cursinhos populares, também se encaixam pré-vestibulares com preço abaixo do mercado, mas com uma estrutura que a maioria não dispõe, com material didático próprio e várias unidades. Ainda em São Paulo, os cursinhos Henfil e da Poli estão com inscrições abertas para este semestre. No cursinho da Poli, os preços das turmas de agosto vão de cinco parcelas de R$ 141 (aos sábados, 14 horas semanais) a quatro parcelas de R$ 239 (para o curso matutino ou norturno, de segunda a sexta). No Henfil, o curso mais caro custa sete parcelas de R$ 157,45 (matutino) e o mais barato, sete parcelas de R$ 64,30 (sábados), ambos com material incluso.

 

Apesar do custo médio acima de muitos pré-vestibulares alternativos, em comparação com os cursinhos tradicionais, o preço é mais acessível. Levantamento dos preços de semi-extensivo dos cursinhos Anglo, Objetivo, COC e Etapa mostra a diferença: o mais barato para esse semestre, o de 20 aulas por semana norturnas do Objetivo, custa cinco parcelas de R$ 300. O mais caro, o matutino do Anglo, custa seis parcelas de R$ 947.