"Três exposições que vale a pena ver em Londres"
Atualizada em 2 de julho de 2009
"Três exposições que vale a pena ver em Londres."
Essa frase era uma das manchetes de 22 de dezembro de 2003 do UOL. Recebi quatro e-mails de internautas interessados na norma culta da língua portuguesa, perguntando-me se não estaria errada a frase, já que, segundo eles, as "três exposições" é que "valem a pena". Engano deles, pois o que vale a pena é o ato de "ver". O que leva ao equívoco é o fato de o termo "três exposições" estar deslocado. Se colocarmos todos os termos do período em ordem direta, teremos:
"Vale a pena ver três exposições em Londres."
Sintaticamente, o verbo "valer" tem como sujeito a oração "ver três exposições em Londres". Para se encontrar o sujeito de um verbo, pergunta-se a ele "Que é que...?". Perguntemos ao verbo "valer": "Que é que vale a pena? Resposta: "Ver três exposições em Londres".
Quando o sujeito for representado por uma oração, será denominado de oração subordinada substantiva subjetiva. Quando isso ocorrer, ou seja, quando houver uma oração subordinada substantiva subjetiva, o verbo da oração principal deverá ficar na terceira pessoa do singular. Por isso, "vale a pena". Mais ainda: quando o verbo da oração subjetiva estiver no infinitivo, acrescenta-se ao nome da oração "reduzida de infinitivo". O nome da oração é, então, "oração subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo".
Em tempo: o termo "que" não é pronome relativo, como, à primeira vista, possa parecer a muitos estudantes angustiados devido aos exames vestibulares. "Que", na frase apresentada é partícula expletiva. Qual a diferença entre eles? Vamos à resposta:
O pronome relativo é usado em um período composto de, no mínimo, duas orações: a oração principal e a oração subordinada adjetiva, iniciada exatamente pelo pronome relativo. Há de haver, portanto, no mínimo, dois verbos para existir o pronome relativo. O verbo posterior a ele manterá relação sintática com o substantivo anterior a ele (Sempre haverá um substantivo antes do pronome relativo). Por exemplo:
- "O carro que comprei é importado".
Há dois verbos no período: "comprei" e "é". O verbo "comprar" mantém relação sintática com o substantivo "carro" (parece que "carro" é objeto direto de "comprar", pois "comprei o carro"), porém "carro" é sujeito do verbo "ser": "Que é importado?" Resposta: "o carro que comprei". Assim que se comprova a existência de um pronome relativo. Com a partícula expletiva ocorre o mesmo, com uma única diferença: ela pode ser retirada do período sem prejuízo algum ao contexto. Por exemplo:
- "É dele que precisamos" = partícula expletiva, pois "precisamos dele". O "é" dessa oração faz parte da partícula expletiva.
- "Nós que fizemos o trabalho" ou "Nós é que fizemos o trabalho" = partícula expletiva, pois "nós fizemos o trabalho".
- "As garotas que chegaram são minhas amigas" = pronome relativo, pois não há como retirá-lo do período.
- "Essas garotas é que são minhas amigas, e não aquelas" = partícula expletiva.
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