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"Renda melhor distribuída..."

Atualizado em 28/01/2015, às 17h32

Por Dílson Catarino*:

Renda melhor distribuída...

Assisti, na televisão, a uma propaganda de determinada empresa que tratava da agricultura brasileira. Em certo trecho, o locutor disse a frase apresentada na abertura de nossa coluna: Renda melhor distribuída. Não é a primeira vez que ouço frase sobre a renda brasileira ser mal distribuída. Esse é um assunto constante em nosso país.

Todos sabemos que a renda brasileira não é bem distribuída; todos queremos que ela seja distribuída de maneira mais apropriada ao desenvolvimento do país. Todos queremos que ela seja melhor distribuída? Não! Essa não é a maneira adequada ao padrão culto da Língua Portuguesa de usar o comparativo de superioridade do advérbio bem. Logicamente existe o comparativo de superioridade melhor, como também existe pior, o comparativo de superioridade do advérbio mal. Por exemplo:

Ele agiu melhor que o irmão naquela ocasião.

Ele explica a matéria melhor que o outro professor.

Este é o pior governante que já tivemos.

Seu trabalho é pior que o de seu amigo.

Quando, porém, à frente do comparativo de superioridade de bem e de mal houver particípio de verbo -- geralmente terminado em -ado ou em -ido --, não se deve usar as formas sintéticas melhor e pior, e sim as formas analíticas mais bem, menos bem, mais mal e menos mal. Por exemplo:

O Santos é o time mais bem preparado do campeonato.

Nunca vi trabalho mais mal feito que este!

Ela é mais bem educada que a amiga.

Esse projeto foi mais mal realizado que o anterior.

Todos queremos que a renda seja mais bem distribuída.

Essa seria, então, a frase adequada. Assim o locutor deveria ter dito:

Renda mais bem distribuída...

*Professor de gramática da língua portuguesa, literatura e redação, desde 1980.