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"Experimenta! Experimenta! Experimenta!"

Atualizada em 2 de julho de 2009

"Experimenta! Experimenta! Experimenta!"

Uma propaganda de cerveja trazia um garçom conversando com o cantor Zeca Pagodinho e a sugestão para que ele experimentasse a bebida. Ali, havia um problema gramatical: o "experimenta". O garçom deveria ter dito "experimente", uma vez que tratou Zeca Pagoinho pelo pronome "você". Vamos à explicação:

O problema reside na desuniformidade de tratamento, que consiste em concordar os pronomes e o verbo com o tratamento destinado aos interlocutores.

Esclarecendo: se, ao conversarmos com uma pessoa, a tratarmos por "você", todos os pronomes e o verbo deverão ficar na terceira pessoa do singular, já que "você" é um pronome de tratamento, que é de terceira pessoa. Caso haja mais de um interlocutor, a concordância se efetiva na terceira pessoa do plural (vocês).

Já, se tratarmos a pessoa por "tu", todos os pronomes e o verbo deverão ficar na segunda pessoa do singular. Caso haja mais de um interlocutor, a concordância se efetiva na segunda pessoa do plural (vós).

Os pronomes referentes à segunda pessoa são os seguintes: tu, te, ti, contigo, teu, tua, teus, tuas; vós, vos, convosco, vosso, vossos, vossa, vossas.

Os pronomes referentes à terceira pessoa são os seguintes: você, vocês, o, a, os, as, lhe, lhes, se, si, consigo, seu, sua, seus, suas.

Veja alguns exemplos:

  • No fim do ano te darei um presente se tu fores aprovado.
  • No fim do ano lhe darei um presente se você for aprovado.
  • Eu te amo muito, Teté. Não vivo sem ti!
  • Eu a amo muito, Teté. Não vivo sem você!
  • O presente que te dei não foi útil para ti.
  • O presente que lhe dei não foi útil para você.
  • Ele te deu o recado que te mandei?
  • Ele lhe deu o recado que lhe mandei?
  • Tu deverias preocupar-te com tua vida!
  • Você deveria preocupar-se com sua vida!

    Outro problema de desuniformidade de tratamento ocorre no uso do verbo, principalmente no imperativo, que indica pedido, ordem, conselho, apelo.

    Se o interlocutor for tratado por "tu", o verbo no imperativo deve ser conjugado da seguinte maneira (peguemos como exemplo o verbo "experimentar"):
     
  • Todos os dias tu experimentas; retira-se a letra "s" do verbo: "Experimenta". Este é o imperativo do verbo "experimentar" para a segunda pessoa do singular: "Experimenta!".

    O mesmo ocorre com vós:
     
  • Todos os dias vós experimentais; retira-se o "s": "Experimentai!".

    Se o interlocutor for tratado por você, o verbo no imperativo será conjugado da mesma maneira que o presente do subjuntivo, que é caracterizado pela frase "Espero que...". O verbo "experimentar", então, fica assim:
     
  • Espero que você experimente. O imperativo de "experimentar" para "você" é "Experimente!".

    O mesmo ocorre com os pronomes nós e vocês:
     
  • Espero que nós experimentemos. Imperativo: "Experimentemos!"
  • Espero que vocês experimentem. Imperativo: "Experimentem!".

    Veja estas frases:
     
  • Se tu gostas de cerveja, experimenta esta.
  • Se você gosta de cerveja, experimente esta.

    E a propaganda? Está certa ou errada?

    Na primeira vez em que ela foi ao ar, o garçom tratava Zeca Pagodinho por você. O adequado, então, seria:

    "Experimente! Experimente! Experimente!"