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"Agentes dos serviços secretos britânico e americano abortaram..."

Atualizada em 2 de junho de 2009

"Agentes dos serviços secretos britânico e americano abortaram um ataque a bomba na Grã-Bretanha, segundo apurou a BBC".

Dois internautas enviaram-me e-mails, afirmando estar inadequada a frase apresentada, pois, segundo eles, "britânico" e "americano" deveriam estar no plural, já que se referem a "serviços secretos". Afirmaram também que faltou o acento indicador de crase em "a bomba". E você, caro internauta, que acha? A frase está adequada ao padrão culto da Língua Portuguesa? A resposta é SIM! Vejamos a explicação:

Os adjetivos "britânico" e "americano" de fato se referem a "serviços secretos", porém a enumeração dos dois adjetivos já indica que trata de elemento no plural. A frase faz referência a dois serviços secretos: um britânico; outro americano. A regra é clara: quando dois ou mais adjetivos modificarem apenas um substantivo, há duas maneiras de se construir a frase:

1ª) Coloca-se o substantivo no plural, e enumeram-se os adjetivos sem a inclusão de artigo antes deles. Por exemplo:

  • Ele estuda as literaturas francesa e inglesa.
  • As seleções brasileira e argentina se enfrentarão.

    2ª) Coloca-se o substantivo no singular, e enumeram-se os adjetivos, o primeiro sem artigo, que será colocado antes do substantivo, e os demais com artigo. Por exemplo:
     
  • Ele estuda a literatura francesa e a inglesa.
  • A seleção brasileira e a argentina se enfrentarão.

    A frase apresentada poderia, então, ser escrita de duas maneiras:
     
  • "Agentes dos serviços secretos britânico e americano abortaram...".
  • "Agentes do serviço secreto britânico e do americano abortaram...".

    Quanto ao acento indicador de crase em "a bomba", a regra tradicional diz que, diante de expressões que indiquem meio ou instrumento, não se deve usá-lo, a não ser que ocorra ambiguidade. Por exemplo:
     
  • "Ele atacou o desafeto a facão", o instrumento utilizado por ele foi "o facão". Não há duplo sentido nessa frase, portanto, segundo a regra tradicional, não se usa o acento indicador de crase.
  • "Faz a máquina cem cópias por minuto". Agora há ambiguidade, pois podem-se fazer duas interpretações:

    1ª) Alguém usa a máquina como instrumento para fazer cem cópias por minuto;

    2ª) A máquina faz cem cópias por minuto.


    Sintaticamente dizemos que, no primeiro caso, o sujeito é oculto, e "a máquina" é adjunto adverbial de instrumento. No segundo caso, "a máquina" é sujeito. Caso se queira dar a ideia de instrumento para "a máquina", o acento indicador de crase, segundo a regra tradicional, deve ser usado, pois há a possibilidade da segunda interpretação. Há, portanto, a ambiguidade.

    Perceba que escrevi três vezes "regra tradicional". É que os gramáticos modernos atiçaram fogo a essa regra: dizem alguns deles que o acento indicador de crase, em expressões que indiquem meio ou instrumento, deve ser usado mesmo que não haja ambiguidade. Para eles, então, o adequado seria "um ataque à bomba".

    É uma polêmica séria, pois já há concursos vestibulares aceitando essa ideia e admitindo o acento indicador de crase nas expressões indicadoras de meio ou instrumento. Assim, a dificuldade para estudar e aprender nosso idioma aumenta demasiadamente. Eu prefiro, então, dizer que, diante dessa polêmica, o ideal seria facultar ao escritor a possibilidade de usar o acento indicador de crase. É o que digo em sala de aula. Prefiro não usar o acento, mas respeito os que o usam.