Semana 23 Literatura
Ufscar 2002
(adaptado)
Texto para as questões 1 e 2.
Soneto de fidelidade
(Vinicius de Moraes)
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Nos dois primeiros quartetos do soneto de Vinicius de Moraes, delineia-se a ideia de que o poeta
Ufscar 2002
No segundo verso do poema, no qual o poeta mostra como tratará o seu amor, as expressões "com tal zelo", "sempre" e "tanto" dão, respectivamente, ideia de
PUC Rio
(adaptado)
Texto para as questões 3 e 4.
A mulher que passa
Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! Como és linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
Teus pêlos leves são relva boa
Fresca e macia.
Teus belos braços são cisnes mansos
Longe das vozes da ventania.
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Como te adoro, mulher que passas
Que vens e passas, que me sacias
Dentro das noites, dentro dos dias!
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?
Por que não voltas, mulher que passas?
Por que não enches a minha vida?
Por que não voltas, mulher querida
Sempre perdida, nunca encontrada?
Por que não voltas à minha vida
Para o que sofro não ser desgraça?
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
Eu quero-a agora, sem mais demora
A minha amada mulher que passa!
No santo nome do teu martírio
Do teu martírio que nunca cessa
Meu Deus, eu quero, quero depressa
A minha amada mulher que passa!
Que fica e passa, que pacifica
Que é tanto pura como devassa
Que boia leve como a cortiça
E tem raízes como a fumaça.
Vinicius de Moraes. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992, pp.88-89.
A figura da mulher como musa, fonte de inspiração do poeta, é um traço de permanência na literatura brasileira. Seguem-se abaixo trechos de poemas escritos por diferentes autores, em distintos períodos literários, sobre o sentimento que a musa inspiradora provoca no poeta. Aponte a única opção cuja imagem da mulher se distancia por completo da observada no poema de Vinicius de Moraes:
PUC Rio
Com relação ao poema de Vinicius de Moraes, podemos afirmar que:
Fuvest 2010
Leia este trecho do poema de Vinicius de Moraes
Mensagem à Poesia
Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.
Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso reconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Vinicius de Moraes, Antologia Poética.
a) No trecho, o poeta expõe alguns dos motivos que o impedem de ir ao encontro da poesia. A partir da observação desses motivos, procure deduzir a concepção dessa poesia ao encontro da qual o poeta não poderá ir: como se define essa poesia? Quais suas características principais? Explique sucintamente.
b) Na "Advertência", que abre sua Antologia Poética, Vinicius de Moraes declarou haver "dois períodos distintos", ou duas fases, em sua obra. Considerando-se as características dominantes do trecho, a qual desses períodos ele pertence? Justifique sua resposta.
Resposta:
a) Trata-se da poesia lírica, centrada no "eu" e indiferente à dor alheia. A ela, Vinicius opõe a dura realidade social e o sofrimento do próximo.
b) Pertence à segunda fase. Nela, Vinicius de distancia do misticismo dos primeiros anos, aderindo à temática do cotidiano e às questões sociais.