Questão 8 Português

Os versos seguintes fazem parte do poema "Um chamado João" de Carlos Drummond de Andrade em homenagem póstuma a João Guimarães Rosa. Trabalhe a questão que segue a partir da leitura do poema.

                        Um chamado João

João era fabulista?                                                        Mágico sem apetrechos,

fabuloso?                                                                       civilmente mágico, apelador

fábula?                                                                           de precípites prodígios acudindo

Sertão místico disparando                                             a chamado geral?

no exílio da linguagem comum?

 

Projetava na gravatinha                                                (...)

a quinta face das coisas

inenarrável narrada?

Um estranho chamado João                                        Ficamos sem saber o que era João

para disfarçar, para farçar                                            e se João existiu

o que não ousamos compreen                                    deve pegar.

(...)

(Carlos Drummond de Andrade, em Correio da Manhã, 22-11-1967, publicado em Rosa, J.G. Sagarana, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.)

Na segunda estrofe, há dois processos muito interessantes de associação de palavras. Em "inenarrável?narrada" encontramos claramente um processo de derivação. Em "disfarçar - farçar", temos a sugestão de um processo semelhante, embora "farçar" não conste dos dicionários modernos.

a) Relacione o significado de "inenarrável" com o processo de sua formação; e o de "farçar", na relação sugerida no poema, com "disfarçar".

b) Explique como esses processos contribuem na construção dos sentidos dessa estrofe.

Resposta:

a) O processo usado por Drummond foi o de prefixação. O prefixo "in" tem o sentido de negação, portanto inenarrável é o que não se pode narrar. Fazendo-se uma comparação, já que disfarçar é esconder, então "farçar" seria mostrar, apontar, revelar.

b) Tais recursos contribuem para o  entendimento da estrofe, pois são características do próprio João Guimarães que, às vezes, pelo uso de um vocabulário inusitado não dá aos leitores segurança para a compreensão. Daí os versos de Drummond nos apontam um João que, mesmo quando disfarçava, revelava as realidades as quais "não ousamos compreender".

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