Fuvestão 2013

Era uma vez, num tempo não muito distante, um dragão feio e assustador. Ele passeava solto pelo Brasil, espalhando miséria. Tinha presas enormes e soltava fogo pelas narinas. Assustava mulheres, crianças e velhos. Era o dragão da inflação. Criado nos porões do governo gastador, era bem alimentado e não parava de crescer. Um de seus truques mais perversos era parecer um bichinho de estimação, inofensivo e familiar. Engraçado é que pouca gente enxergava a maldade da fera. Os poucos que conheciam seus truques achavam que nada podia ser feito. O dragão da inflação parecia uma espécie protegida da fauna brasileira. Aos poucos, porém, o Brasil foi-se incomodando com aquelas garras afiadas, os dentes cortantes e o insuportável fogo das narinas que queimava dinheiro. Com a pata esquerda o dragão arrancava riqueza de quem já tinha tão pouco e com a direita entregava aos mais ricos. Assim foi cavando um fosso de desigualdade tão fundo que quase tragou toda a sociedade brasileira.    

                                                    (Revista Veja, out. 1999)