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29/11/2006 Alcoolismo e adolescência Uso precoce do álcool preocupa pesquisadores Antonio Carlos Olivieri* Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
O levantamento revela um aumento pequeno dos dependentes de álcool no país, de 11,2%, em 2001, para 12,3%, em 2006. Foram focalizadas as 107 cidades do país com mais de 200 mil habitantes e ouvidas 8,5 mil pessoas, entre 12 e 65 anos. A pesquisa destaca que é particularmente preocupante o uso precoce do álcool, uma vez que quanto mais cedo se incia o uso desse psicotrópico - o álcool etílico ou etanol -, tanto maior é o risco de se desenvolver dependência em relação a ele. Álcool e adolescência Em função disso, o Cebrid vem desenvolvendo com regularidade pesquisas sobre o uso do álcool entre adolescentes. A última delas data de 2004 e seus resultados revelam várias questões sobre as quais vale a pena pensar. Inicialmente, é importante notar que 48,3% dos adolescentes na faixa etária dos 12 aos 17 anos já beberam alguma vez na vida (52,2 rapazes; 44,7% moças). Desses, 14,8% bebem regularmente e 6,7% são dependentes do álcool. A pesquisa também aponta que a bebida é a porta de entrada para o uso de outras drogas. A maioria dos adolescentes pesquisados teve seu primeiro contato com o álcool aos 12 anos, com a maconha aos 13 e com a cocaína aos 14. Os pesquisadores do Cebrid são favoráveis a campanhas de prevenção contra o abuso do álcool dirigidas a crianças a partir dos 10 anos de idade. Uso social e abuso O grande problema talvez seja o fato de que os limites entre o uso social e o abuso do álcool nem sempre ficam claramente definidos. Entre outros, os estudiosos do problema apontam alguns sinais de alerta, para os quais é bom estar ligado: Droga legal e socialmente aceita O álcool é considerado particularmente perigoso para o adolescente por motivos diversos. Em primeiro lugar, pelo fácil acesso: a lei 9.294/96 proíbe a venda de bebidas alcóolicas para menos de 18 anos, mas essa é uma daquelas leis que "não pegam", por incapacidade de fiscalização das autoridades. Em segundo lugar, a bebida é tida como um elemento de socialização, de auto-afirmação e de inclusão no mundo adulto. Além do estímulo da propaganda e dos amigos, muitas vezes o contato com o álcool é propiciado pelos próprios familiares do adolescente. Os pais não têm em relação ao etanol, por exemplo, o cuidado que costumam ter com a maconha. Uma pesquisa realizada pela Universidade Duke (EUA), em 2000, demonstrou que o uso freqüente do álcool na adolescência produz danos ao cérebro, afetando a memória e prejudicando a aprendizagem, além de favorecer o desenvolvimento de problemas familiares, com violência inclusive, e de uma vida sexual promíscua - o que se tornou um comportamento de alto risco na era da aids. Construção da identidade O problema é que a adolescência, como lembram os psicólogos, é a fase de construção da identidade. Portanto, é particularmente ruim que nessa idade o indivíduo se habitue a experimentar situações específicas sobre o efeito do álcool: festas, praias, namoros, relações sexuais ou afetivas. Assim, criam-se associações entre o uso de bebidas e as sensações de prazer, de modo que o consumo alcoólico vai se tornando freqüente, o que abre caminho à dependência, que pode ser tanto física quanto psicológica. Segundo os especialistas, a dependência decorre, entre vários fatores, de o álcool ser uma droga que proporciona simultaneamente reforços positivos (desperta sensações de prazer) e negativos (alivia sensasões de desprazer). É comum, por exempo, os dependentes combaterem os efeitos desagradáveis da ressaca começando a beber novamente. O fenômeno da dependência está associado ao da tolerância, isto é, a necessidade de se ingerir mais rapidamente quantidades cada vez maiores de álcool para se chegar ao estado de embriaguez. Desse modo, em vez de ficar "alto" passa-se logo ao "chapado". A partir daí, os efeitos da bebida podem ser devastadores tanto no nível social, quanto no psicofisiológico. Tratamentos O alcoolismo não tem propriamente cura, mas tem controle a partir da abstinência, ou seja, de simplesmente não se tomar nenhum gole. Para isso, muitas vezes é necessário o tratamento psiquiátrico e já existem substâncias que facilitam o combate à doença. A naltrexona funciona como inibidor das sensações de prazer proporcionadas pelo bebida. O acamprosato reduz os sintomas desagradáveis provocados pela abstinência. Mas sempre convém lembrar que cada caso é um caso e só um profissional da área é capaz de determinar o tratamento mais adequado para cada um. Em geral, o tratamento medicamentoso deve ser acompanhado de psicoterapia. Finalmente, não se pode deixar de lembrar que a terapia dos Alcoólicos Anônimos também tem ajudado muita gente a se livrar do alcoolismo há muito tempo, mesmo sem o uso de medicamentos. Nesse caso, o que conta é o apoio do grupo ao indivíduo e a influência que um exerce sobre o outro.
Para saber mais*Antonio Carlos Olivieri é escritor, jornalista e diretor da Página 3 Pedagogia & Comunicação. olivieri@pagina3ped.com
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