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Olavo Bilac é um dos expoentes do Parnasianismo Por Eva Nóbrega de Albuquerque Do Cursinho da Poli Poemas pela cidade Quando você estiver passando pela estação Sumaré do metrô, não deixe de dar uma olhada nas imagens coladas nas vidraças dela, que, aliás, permitem observar uma vista surpreendente e bela da Av. Sumaré e de parte da Av. Pacaembu. Nesses vidros, há fotografias de gente comum, com poemas, letras de músicas e fragmentos de textos colados sobre elas. Num dos retratos, há um trecho de um poema de Olavo Bilac, cuja primeira estrofe foi gravada por Belchior na canção Divina Comédia Humana, encontrada facilmente nas lojas de disco da cidade. É importante notar que textos como esses, pela maneira com que foram colados nas fotos, ganham vida e ficam mais próximos da gente. Dão a impressão de que saíram dos livros e viraram poesia viva. O poema de Bilac segue abaixo: "Ora ( direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com ela? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas." Vale a pena lembrar que Olavo Bilac (1865-1918) participou do Parnasianismo, movimento estético imediatamente anterior ao Modernismo. Os poetas parnasianos valorizavam a forma, a estrutura, a construção dos versos. Mas isso não significa que Bilac seja um escritor frio, impassível. O poeta Manuel Bandeira ( 1886-1968) notou certa vez que em seus versos havia uma "sensualidade à flor da pele que o tornava muito mais acessível ao grande público". Talvez seja isso que nos atrai a leituras e releituras de alguns de seus versos. No poema acima, o eu lírico inicia um diálogo imaginário com um leitor, utilizando vocabulário e ritmo que sugerem proximidade, afetividade. Além disso, lança mão de sinestesias ( mistura de sensações e impressões como em "ouvir estrelas"), artifício que convida o leitor a partilhar da experiência do eu lírico, que é capaz de "ouvir e de entender estrelas". |
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