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Grafia correta é imprescindível Thaís Nicoleti de Camargo* Especial para a Folha de S. Paulo A correta grafia das palavras (ortografia) é assunto obrigatório nos exames vestibulares. Observada em todas as questões discursivas e, sobretudo, na redação, é o cartão de visita de seu texto. Não escreva "somatória" no lugar de "somatório", esta sim a forma correta. Dizer que existem gêmeos "xipófagos" é absurdo dos grandes. Os indivíduos ligados na altura da área do apêndice xifóide são chamados "xifópagos". "Hesitar", sinônimo de "vacilar" não deriva de "êxito". Veja como suas grafias são diferentes. Se você ficar atento ao significado das palavras, evitará muitos erros de grafia. "Hombridade", por exemplo, é a característica de quem tem aspecto varonil e, no sentido figurado, quer dizer dignidade. Tem o mesmo radical da palavra "homem" ("hombre", em espanhol). "Pichar" vem de "piche"; "descarrilar", de "carril" (trilho). "Asterisco" é um diminutivo de astro ("aster"). "Maisena" deriva de "maís", variedade de milho da qual se faz o farináceo. Note que a forma grafada com "z" é marca comercial, assim registrada. Muito cuidado você deverá tomar ao empregar termos que possuem "pares" na língua. É o caso de "estrato" e "extrato", palavras idênticas em algum aspecto (no caso, a sonoridade), mas de significados distintos, a que chamamos homônimos. "Estrato" é "camada" (daí "estratificação" social, ou seja, divisão da sociedade em camadas); "extrato" é aquilo que se extraiu (tirou) de algo. É o caso de "estático" (imóvel) e "extático" (em estado de êxtase). "Xeque" tanto é um lance do jogo de xadrez como o aportuguesamento da forma "sheik", que nomeia o soberano árabe. "Cheque" é ordem de pagamento. "Pôr em xeque" é o que fazemos quando pomos em dúvida o valor ou mérito de alguém. Aproveitando o par de homônimos "paço" (palácio) e "passo" (ato de andar), Padre Antônio Vieira fez um famoso trocadilho. Com o intuito de criticar os pregadores que discursavam nos palácios e não se dedicavam à catequese, diferentemente dos jesuítas, que percorriam o país, disse que o que distinguia uns de outros era que alguns tinham mais paço, enquanto outros tinham mais passos. "Caçar" (capturar) não deve ser usado no lugar de "cassar" (anular). Assim, dizemos que o mandato de um político é cassado. Um "mandato" (gestão) não pode ser confundido com um "mandado" (ordem judicial). Agora estamos diante de um caso de parônimos, mais uma das armadilhas da nossa língua. Trata-se de palavras parecidas, cujos significados são diferentes. Se um distraído garçom lhe oferecer como sobremesa uma exótica torta de fígado, desconfie de que ele se enganou, mas, antes de aceitá-la, procure assegurar-se de que sua torta seja de figo. Esse tipo de confusão é bastante comum no dia a dia. *Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha |
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