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Tire dúvidas sobre verbos impessoais
Thaís Nicoleti de Camargo*
Especial para a Folha de S. Paulo
"Faz" ou "fazem" cinco anos que não nos vemos? Certamente, você optou pela primeira forma. O verbo "fazer", ao indicar tempo decorrido, não admite plural, pois não possui sujeito ("cinco anos" é objeto direto). Em outras palavras, é um verbo impessoal. Comporta-se como ele o verbo "haver", empregado também para indicar o tempo passado e como sinônimo de "existir" ou "ocorrer". Assim: "Há cinco anos que não nos vemos", "Haverá resultados positivos" ou "Houve incidentes durante o jantar". Note que o verbo "haver", nesses casos, permaneceu na terceira pessoa do singular.

É o que se dá também com os verbos que indicam fenômenos da natureza, como: chover, gear, nevar, trovejar. Você já deve ter dito ou ouvido alguém dizer: "Amanheci doente". Ora, o verbo adquiriu o sujeito "eu", elíptico na oração. Na realidade, "quando amanheceu, eu me senti doente". A primeira formulação é muito mais econômica.

É importante lembrar que o auxiliar de um verbo impessoal também permanece no singular, pois a oração em que se insere não tem sujeito. Portanto diremos: "Deverá haver resultados..." ou "Pode ter havido incidentes durante...".

O verbo "haver", entretanto, nem sempre é impessoal; pode ser empregado como auxiliar nos tempos compostos (assim como o verbo "ter") e, nessa circunstância, poderá sofrer a flexão de plural. Por exemplo: "Eles haviam chegado cedo" (equivalente a "tinham chegado"). Poderá ainda o verbo "haver" ser auxiliar do próprio "haver", caso em que permanecerá no singular: "Há de haver menos injustiças". Se, todavia, substituirmos "haver" por "existir", teremos: "Hão de existir menos injustiças" ("menos injustiças" é objeto direto de "haver", mas é sujeito de "existir"). Em suma, o verbo concorda com seu sujeito. Na ausência deste, fica invariável.

Há verbos que só se empregam na terceira pessoa gramatical (do singular ou do plural). A esses dá-se o nome de unipessoais. É o caso daqueles que exprimem ações ou estados peculiares a animais (miar, latir, cacarejar, trotar). Não se cogita flexionar esses verbos na primeira e na segunda pessoa. Entretanto, em sentido figurado, isso será possível: "Rosnamos impropérios e depois nos arrependemos".

Um verbo deve ficar na terceira pessoa do singular quando o seu sujeito é uma oração. Em "Convém sairmos cedo", o sujeito de "convém" é a oração "sairmos cedo", uma subordinada substantiva subjetiva reduzida de infinitivo. Não se deve dizer (embora se ouça corriqueiramente): "Custei para entender isso". A construção correta é: "Custou-me entender isso". Observe que "entender isso" é o sujeito de "custou". Na acepção de "ser custoso, de difícil realização", o verbo custar permanece na terceira pessoa, tendo a oração como sujeito.

O verbo "parecer" admite duas construções quando seguido de infinitivo. Podemos dizer: "As estrelas parecem sorrir" ou "As estrelas parece sorrirem". Esta última, à primeira vista, causa certa estranheza. Se, na primeira, "as estrelas" é o sujeito da locução "parecem sorrir", na segunda, é o sujeito apenas de "sorrirem". Assim: "Parece as estrelas sorrirem" equivale a "Parece que as estrelas sorriem". A oração "as estrelas sorrirem" é o sujeito de "parece", que permanece na terceira pessoa.
*Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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