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Veja a utilização do diminutivo e do aumentativo
Thaís Nicoleti de Camargo*
Especial para a Folha de S. Paulo
"Era uma velha sequinha que, doce e obstinada, não parecia compreender que estava só no mundo." É assim que Clarice Lispector nos apresenta a personagem principal do conto "Viagem a Petrópolis", para logo adiante acrescentar que atendia pelo nome de "Mocinha". Outro seria o efeito se a escritora afirmasse tratar-se de uma "velha seca".

Ao empregar o sufixo de grau diminutivo, além de intensificar a característica, a autora reforça a ideia de docilidade presente na descrição e retomada no nome da personagem, também um adjetivo acrescido do sufixo "-inha".

O uso do diminutivo é um recurso próprio da linguagem afetiva e, portanto, largamente encontrado na fala. A mãe que tenta convencer a criança a comer oferece-lhe um "bifinho", uma "sopinha". A comida caseira também é lembrada com carinho: uma "farofinha", um "feijãozinho".

Além de expressar noções positivas, pode o diminutivo conter carga negativa. Quando a palavra em grau normal denota coisa triste ou lamentável, o sufixo "-inho" traduz simpatia (pobrezinho, doentinho). Mas, quando ela tem sentido desfavorável, o sufixo conota "atenuação tolerante" (feinho, bobinho). Há sufixos de diminutivo cuja força depreciativa é flagrante. Um "jornaleco" jamais será um grande jornal.

O sentido depreciativo, entretanto, é associado geralmente aos sufixos de aumentativo. O tamanho excessivo é visto como algo feio e desproporcional. A ninguém agradará ouvir que tem um "narigão" ou um "cabeção". Se o sufixo "-ão" indicar agente de ação, a expressão assumirá claro sentido pejorativo. Não será nada elogioso chamar alguém de "fujão" nem de "mandão".

Ultimamente tais sufixos têm sido usados para apelidar estabelecimentos comerciais, como "varejão" ou "sacolão". São muitos os casos em que os diminutivos e aumentativos tiveram neutralizada a informação de tamanho, adquirindo novos significados. "Portão" e "cartão" já não remetem a grau aumentativo; "camisinha" não é uma camisa pequena; "folhinha" é sinônimo de calendário; "caninha" é aguardente de cana; "camarim", diminutivo de câmara, tem uso específico.

Tal esvaziamento de sentido é mais observável entre os diminutivos de origem erudita, que carregam o sufixo "-ulo" (célula/cela, cutícula/cútis, glóbulo/globo, fascículo/feixe, óvulo/ovo). A própria palavra "óculos", de origem latina, ao pé da letra, quer dizer "olhinhos", assim como "ósculo", hoje sinônimo de beijo, é um diminutivo de boca, indicando o formato dos lábios de quem joga um beijo de longe. Que tal uma pausa para um "cafezinho"?
*Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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