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Objeto direto pode vir com preposição Thaís Nicoleti de Camargo* Especial para a Folha de S. Paulo "Cumpriu com o dever", "Sacou da arma". O uso da preposição não é obrigatório nessas frases, pois esses verbos são transitivos diretos. O que o justifica é o desejo de enfatizar a ação verbal. Embora na maioria das vezes o uso da preposição antes do objeto direto seja uma opção de estilo, há pelo menos uma situação em que não há como evitá-lo. Tomemos o verbo "castigar", um transitivo direto. Podemos dizer: "Ela castigou o menino" ou "Ela castigou-o", substituindo o substantivo pelo pronome oblíquo átono. Mas, se usássemos o pronome oblíquo tônico, a preposição seria obrigatoriamente empregada. Assim: "Castigou a ele". Os pronomes tônicos são sempre preposicionados. O risco de ambiguidade também pode levar ao emprego da preposição. Em "Muito admirava o pai ao filho", a preposição foi usada apenas para assegurar a clareza da expressão. Na ordem direta, em que o sujeito antecede o verbo, a frase seria construída sem a preposição. Assim: "O pai admirava muito o filho". Uma simples alteração na ordem usual poderia fazer o objeto direto confundir-se com o sujeito. Não é difícil perceber que a inversão sintática às vezes pode fazer que a construção ganhe expressividade, motivo pelo qual é um recurso de estilo largamente utilizado. Quando o objeto é o primeiro termo da oração, costuma-se preposicioná-lo - até para evitar que seja lido, num primeiro momento, como sujeito. Assim: "Ao mestre ninguém iludirá" (mas "Ninguém iludirá o mestre"). Nesse caso, a frase ganha em clareza. Se o objeto direto contiver dois núcleos e um deles for um pronome tônico (preposicionado), o outro núcleo deverá receber também a preposição, a fim de estabelecer o paralelismo gramatical da estrutura e, consequentemente, garantir a clareza da expressão. Assim: "Enganou a mim e aos demais eleitores". Em uma frase como: "Nem provou da comida", a preposição "de" apresenta valor partitivo, isto é, indica que a pessoa não experimentou sequer uma parte da comida. O uso da preposição nesse caso não é obrigatório, mas atende a uma necessidade expressiva e, portanto, estilística. *Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha |
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