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Hipérbole é exagero com propósito expressivo
Thaís Nicoleti de Camargo*
Especial para a Folha de S. Paulo
O desejo de exprimir emoções por meio de palavras leva, por vezes, à elaboração de imagens que beiram o excesso. O exagero com propósito expressivo é o que chamamos de hipérbole.

"Profundissimamente hipocondríaco,/ Este ambiente me causa repugnância.../ Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia/ Que escapa da boca de um cardíaco." Nesses conhecidos versos, Augusto dos Anjos abusou do recurso, lançando mão não só de um inusitado advérbio derivado do superlativo do adjetivo "profundo" como de uma comparação algo extravagante.

O superlativo indica que um ser possui em alto grau certa característica. Comum no estilo grandiloquente de Castro Alves, para quem a poesia é uma "Musa libérrima", e associado à fala ilustrada, o superlativo erudito raramente é ouvido no dia a dia. Foi alvo da ironia de Machado de Assis, que caracterizou José Dias, personagem de Dom Casmurro, pelo seu hábito de usá-lo: "José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental às ideias; não as havendo, servir a prolongar as frases".

Manipulando grande variedade de recursos de ênfase, os falantes tendem a descartar "minutíssimo" ou "sapientíssimo", dando lugar a "miudinho" ou a "sabidão", quando não a adjetivos seguidos de "pra burro" ou "pra cachorro". Certa personagem de Clarice Lispector é descrita como uma "velha sequinha". O sufixo -inho preso a um adjetivo não só o intensifica mas ainda lhe empresta um tom afetivo.

Alterando o corpo da palavra, fazem-se "arquiinimigo", "superfino" ou "megacomício", por exemplo. A repetição (mar azul, azul) também produz ênfase.

No curioso repertório de Guimarães Rosa, registram-se formas as mais inventivas. Em "Cercavam-nos anjos da guarda, aos infinilhões", o neologismo sugere a ideia de grande quantidade.

De uso cotidiano ou literário, a hipérbole é uma das figuras de linguagem mais expressivas da língua. Veja o belo efeito alcançado por Vinicius de Moraes no seu "Soneto do Amor Total": "E de amar assim, muito e amiúde/ É que um dia em teu corpo de repente/ Hei de morrer de amar mais do que pude".
*Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha
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