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Érico Veríssimo ajuda a contar história do Rio Grande do Sul
Suzana Barelli
free-lance para a Folha de S.Paulo
Ana Terra, Pedro Missioneiro, capitão Rodrigo. Os personagens da trilogia O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo (1905-1975) ajudam a contar, pela ficção, a saga do Rio Grande do Sul. Pedro Missioneiro, como o "sobrenome" aponta, é um índio da região dos Sete Povos das Missões, como ficou conhecida a colonização dos jesuítas no noroeste do Estado nos séculos 17 e 18. Das Missões no Rio Grande (foram 30 entre Argentina, Paraguai e Brasil), no entanto, restam apenas ruínas.

São Miguel, a 483 km de Porto Alegre, fundada como São Miguel Arcanjo pelos padres da Companhia de Jesus, é o ponto de partida para rememorar a história das reduções (a palavra tem origem no objetivo dos jesuítas em delimitar o espaço físico dos índios), destinadas à catequização dos índios e, claro, à conquista e posse de novas terras para a Espanha. As ruínas da cidade foram declaradas Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela Unesco em 1983.

No centro de cada redução, ficava a igreja e a praça. Junto à igreja, o colégio para catequizar os meninos - as meninas índias aprendiam prendas domésticas. Algumas povoações chegaram a ter 6.000 índios. Os guaranis trabalhavam para os jesuítas, cuidavam da agricultura e criavam gado. O chimarrão, a bebida regional dos gaúchos, também é considerado um legado das missões jesuíticas - mais precisamente, dos hábitos guaranis aliados aos ensinamentos do cultivo da terra. "Dessa mistura da cultura jesuítica-guarani, portuguesa e espanhola, surgiu o gaúcho e sua forte identidade em defesa de sua terra", diz o historiador Moacyr Flores, da PUC-RS.

Ataques dos bandeirantes à procura de mão de obra escrava, num primeiro momento, e disputas territoriais entre Portugal e Espanha, numa segunda fase, acabaram por dizimar os índios. "O fim das Missões foi um genocídio que quase acabou com a raça guarani", afirma o poeta e historiador Armínio Trevisan.

As cidades vizinhas de São Nicolau, São Lourenço Mártir e São João Batista também guardam vestígios dos Sete Povos. Em Santo Ângelo, a catedral imita o antigo templo de São Miguel. O maior acervo de arte missioneira pode ser encontrado no Museu das Missões - projetado em 1940 pelo arquiteto Lúcio Costa -, em São Miguel, que preserva as características do barroco guarani do século 17. De carro, é possível, ainda, chegar às ruínas jesuíticas na Argentina (San Ignacio Mini, Loreto e Santana) e Paraguai (Jesus e Trindad).

Outra trilogia deve marcar a história de mais uma colonização na região, desta vez, a italiana. José Clemente Pozenato, autor do premiado O Quatrilho, está no terceiro livro, ainda sem nome, da série sobre a presença dos italianos no sul do país. "Estudo os italianos desde que cheguei a Caxias, há 50 anos", afirma Pozenato. A pesquisa inclui as 48 casas de madeira da cidade de Antonio Prado, tombadas pelo patrimônio histórico e consideradas um dos maiores acervos da imigração italiana.

Os primeiros imigrantes italianos chegaram à região na década de 1870. Viviam da agricultura de sobrevivência, das atividades de artesanato e da vontade de tomar vinho. "Mas o vinho não era dos melhores. Em 1902, o cônsul italiano visitou a região, disse que a bebida era intragável e recomendou que a Itália enviasse técnicos e uvas para cá", lembra o escritor.

Cidades do Vale dos Vinhedos, como Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul e Garibaldi, guardam fortes traços dessa colonização. Muitas casas são de madeira, mas com o porão em pedra. "Os italianos construíam pensando em ter uma cantina no porão", afirma a museóloga Maria Stefani Dalcin, que está documentando a história dos antigos imigrantes na rota do vinho. No Complexo Turístico Vale dos Vinhedos, há o Memorial do Vinho, com o histórico da cultura.

Numa visita à Cooperativa Aurora, fundada em 1931, é possível conhecer barris gigantescos usados para o envelhecimento do vinho. Nas visitas aos produtores, muitos preservam hábitos cotidianos dos imigrantes do Vêneto. Na festa da colheita, conhecida como vindima, fazem sucesso os conjuntos de música italiana. Vestidos com suspensórios e boinas, grupos como o Ragazzi dei Monti têm repertório em dialeto e divertem os ouvintes com "La Bella Polenta".

Outra atração da região é o Caminho de Pedra, um roteiro de 12 quilômetros no distrito de São Pedro, em Bento Gonçalves. O local, antiga rota comercial, resgata mais um pouco da história da imigração italiana, com suas casas com tábuas de seis metros, adegas de pedra, moinhos e cantinas, datadas a partir de 1880.

A arquitetura de pedra não era prerrogativa apenas dos italianos. A Ponte do Imperador foi construída em 1855, sobre o rio Feitoria, para ligar a capital da província à área de colonização alemã, que começou em 1824. Com 88 metros de comprimento, 14 metros de altura e 14 de largura, fica no município de Ivoti (a 46 km de Porto Alegre) e também é tombada pelo patrimônio histórico. "A cultura é a maior herança dos alemães para a região", diz o escritor Charles Kiefer, que usa as histórias dos imigrantes alemães para ambientar seus romances.

Ivoti, Morro Reuter e Picada Café são exemplos de cidades pequenas, com forte presença alemã. Casas de imigrantes em estilo enxaimel (estrutura de madeira com tijolos e pedras), canteiros floridos e carretas de bois compõem a paisagem de uma região cortada por muitos rios. Hoje, os povoados que atraíram os primeiros alemães são conhecidos como a rota romântica do Estado. "Nessas cidades, muitos ainda têm o sotaque carregado e falam alemão em casa", diz o professor Moacyr Flores. Em São Leopoldo, cidade que marca a chegada dos alemães ao Rio Grande do Sul, está o Museu Visconde de São Leopoldo - o museu do imigrante local.

Músicas
  • "Musique Sacré Missionaire", direção de Gabriel Garrido, com o coral dos meninos de Córdoba, da gravadora K.617
  • "Caminhos", do missioneiro Cenair Maicá
  • "La Bella Polenta" e "Sono Imigrante", de Ragazzi dei Monti, grupo que, desde 1991, canta músicas italianas em eventos na região

    Filmes
  • "República Guarani", de Sílivo Back
  • "O Quatrilho", de Fábio Barreto
  • "A Missão", de Ronaldo Joffé
  • "Lua de Outubro", de Henrique de Freitas Lima
  • "A Paixão de Jacobina", de Fábio Barreto

    Livros
  • "O Tempo e o Vento", de Érico Veríssimo, Globo (trilogia)
  • "O Quatrilho", de José Clemente Pozenato, Mercado Aberto, 212 págs., R$ 22
  • "A Face do Abismo", de Charles Kiefer, Mercado Aberto, 168 págs., R$ 20
  • "Valsa para Bruno Stein", de Charles Kiefer, Mercado Aberto, 175 págs., R$ 20

    Informações turísticas
  • Caminhos de Pedra: 0/xx/54/451-3555
  • Prefeitura de Bento Gonçalves: 0/xx/54/462-2627
  • Complexo Vale dos Vinhedos: 0/xx/54/459-1800
  • Ragazzi dei Monti: 0/xx/54/457-1324 ou 457-1443
  • Prefeitura de São Miguel: 0/xx/55/3381-1294
  • Caminho das Missões: 0/xx/55/3312-9632
  • Museu Visconde de São Leopoldo: 0/xx/51/592-4557
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