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Jesuítas fundam a maior cidade do Brasil
Gonzalo Navarrete
free-lance para a Folha de S.Paulo
"Uma terra mui sadia, fresca e de boas águas", segundo as primeiras impressões dos jesuítas que fundaram a cidade na época da colonização. "Vamos fazer a América no Brasil", na esperança de enriquecer dos imigrantes italianos que chegaram para trabalhar nas plantações de café. Ou ainda o lema ufanista "São Paulo não pode parar", da locomotiva que despontava como uma das maiores metrópoles do mundo na década de 50.

Apesar de quase destruída pela guerra imobiliária ou falta de conservação, a São Paulo do século 21 ainda conserva como herança do passado alguns prédios ou monumentos capazes de contar um pouco da história do Estado.

Depois de passar os primeiros três séculos relegada à condição de cidade pobre e sem relevância econômica (resultado da distância do litoral, do isolamento comercial e da inexistência de solo adequado para cultivo de produtos para exportação), São Paulo ganhou a importância que tem hoje principalmente por causa de uma característica natural: a sua posição geograficamente estratégica no Brasil colonial.

E parte dessa herança se deve aos índios tupiniquins, que povoavam o planalto e também o litoral. Foi graças a eles que os portugueses puderam chegar facilmente até o planalto, percorrendo as trilhas indígenas encontradas a partir do primeiro núcleo de colonização do Brasil: a Vila de São Vicente (1532), que ainda conserva algumas atrações, como o primeiro engenho de açúcar do país (dos Erasmos) e a Igreja Matriz de São Vicente Martir, de 1757 (terceira versão da capela construída por Martim Afonso de Sousa, hoje localizada na praça João Pessoa, Centro).

Foi também graças às trilhas que os padres jesuítas Manoel da Nóbrega e José de Anchieta chegaram até uma elevação existente entre os rios Anhangabaú e Tamanduateí, onde fundaram o Colégio dos Jesuítas. Era uma área privilegiada, que servia como proteção natural contra possíveis ataques de tribos inimigas e ainda proporcionava uma boa visibilidade da área.

Foi justamente em torno do colégio que surgiram as primeiras edificações da vila de São Paulo de Piratininga, fundada em 1554, onde hoje fica o Pátio do Colégio e o Museu Anchieta (Pátio do Colégio, 2 e 84, Centro, tel: 0/xx/11/3105-6899).

"O planalto era povoado por várias aldeias. Os índios desciam para o litoral na época do frio para pescar e foram os responsáveis pela criação de várias trilhas, que levavam dede o Vale do Paraíba até a Cordilheira dos Andes", conta o arquiteto e museólogo Júlio Abe Wakahara, que pesquisa as trilhas tupiniquins há quatro anos.

A época dos deslocamentos feitos por trilhas precárias só terminou em 1792, quando foi inaugurada a Calçada do Lorena, a primeira estrada pavimentada do Brasil. O caminho foi construído para escoar a produção de açúcar dos engenhos localizados no interior da província até os navios ancorados no litoral.

Considerado uma grande interligação, de onde saíam caminhos para o interior da província e demais regiões da colônia, São Paulo novamente teve uma importância fundamental na época das bandeiras, ao servir como uma base de apoio para o processo de interiorização do país, durante todo o século 17.

São Paulo era como um grande entreposto, por onde todos passavam ou paravam para depois prosseguir na busca de escravos e de ouro e metais preciosos, descobertos posteriormente nas Minas Gerais. Não é à toa que as principais estradas que ligam hoje a capital ao interior e a outros Estados (Anhanguera, Raposo Tavares e Dutra) foram feitas sobre os traçados das trilhas antigas.

Apesar de, na época, não ter nem de perto a mesma importância da Bahia (cidade litorânea produção de açúcar) e do Rio de Janeiro (que recebeu a corte portuguesa após as invasões napoleônicas, em 1808), São Paulo começa a ganhar peso histórico a partir da proclamação da Independência (1822), que coincide com o avanço da cultura do café para o território paulista pelo Vale do Paraíba.

É justamente para marcar a independência que dom Pedro 2º dá início à construção do Museu do Ipiranga, um palácio que foi parcialmente finalizado em 1890 (parque da Independência, s/n, Ipiranga, tel: 0/xx/11/6165-8000). "O prédio foi criado para sediar uma universidade e virou um museu no governo republicano [1889]. A construção foi financiada com o dinheiro da Loteria do Ipiranga, só que a verba acabou e duas alas nunca foram terminadas. Mesmo assim, conserva hoje um importante acervo de objetos e documentação da história do país", conta José Sebastião Witter, professor da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) e ex-diretor-geral do museu.

É somente com a produção do café e inauguração da primeira estrada de ferro (São Paulo Railway), em 1867, que a cidade inicia o processo de urbanização vertiginosa. Construída pelos ingleses, a estrada é idealizada para escoar a produção de café do interior de São Paulo até o litoral (Santos-Jundiaí). A importância estratégica é tanta que uma vila tipicamente inglesa é construída só para acomodar operários e engenheiros envolvidos na manutenção do sistema. Trata-se de Paranapiacaba, na garganta da Serra do Mar, hoje um subdistrito de Santo André (Grande ABC), que ainda conserva as casas construídas com madeira trazida da Irlanda do Norte e telhas francesas (informações sobre visitas monitoradas: tel. 0/xx/11/4439-0194).

Outro grande legado dos ingleses, até hoje um dos principais cartões postais da cidade, também vem da estrada de ferro: a Estação da Luz (1901), construída também com material trazido da Inglaterra.

Até o início do ciclo do café, São Paulo ainda não tinha ultrapassado os limites físicos do triângulo formado pelas ruas Direita, 15 de Novembro e São Bento. Dos primeiros séculos de existência, também pouca coisa sobreviveu. Alguns examplares raros são a Capela de São Miguel Paulista (século 17), uma das mais antigas manifestações artisticas dos jesuítas no Brasil e o Mosteiro da Luz (século 18), construído por Frei Galvão, onde hoje funciona o Museu de Arte Sacra (av. Tiradentes, 676, Luz, tel. 0/xx/11/3326-5393).

"O conjunto da Luz é o único documento histórico do período colonial na região do centro da cidade. E, apesar de não estar cheio de ouro, é também um dos únicos legados da legítima arquitetura paulista", afirma Benedito Lima de Toledo, professor de história da arquitetura da USP e autor de cerca de dez livros sobre a história da arquitetura e do urbanismo de São Paulo.

A explosão populacional começa com a chegada dos imigrantes europeus, que substituem os escravos nas fazendas de café do interior. Até 1895, São Paulo tinha 130 mil habitantes - nada, se comparado com os 10 milhões de pessoas que vivem na cidade no século 21. Um dos marcos dessa fase é a Hospedaria da Imigração, por onde necessariamente passavam os imigrantes que vinham tentar a sorte no Brasil e onde hoje funciona o Museu da Imigração (r. Visconde de Parnaíba, 1.316, Mooca, tel. 0/xx/11/6691-1866).

São Paulo cresce e vira a sede administrativa do Estado como decorrência da riqueza gerada pelo café, dando início à vida urbana da futura metrópole. Bairros importantes, com bancos, lojas, restaurantes, teatros e outros serviços, surgem na região central, principalmente ao longo das margens da ferrovia.

Com dinheiro, os fazendeiros se mudam para a capital e constroem palacetes na região dos Campos Elísios. As exportações crescentes de café, por sua vez, levaram à capitalização de recursos, que permitiu a formação das primeiras indústrias de São Paulo. O desenvolvimento da indústria se torna ainda mais claro por causa da Primeira Guerra Mundial, em 1914, que impossibilita a importação de produtos europeus.

Na passagem para o século 19, a fisionomia de São Paulo já está significativamente alterada. O Viaduto do Chá (1892) rompe a barreira do Vale do Anhangabaú e promove a expansão do "centro velho" para a parte nova da cidade, que era cortada pelo Vale do Anhangabaú. Tem início um processo de expansão da área urbanizada por meio do loteamento das chácaras. É também o início do crescimento desordenado da cidade.

Na década de 1920, São Paulo chega aos 500 mil habitantes e começa a assumir o seu perfil de metrópole industrial, com a verticalização da área central. O marco principal: a inauguração do Edifício Martinelli (1934), então o maior arranha-céu da cidade.

Nas décadas seguintes, São Paulo vai ampliando seus espaços de forma caótica e cresce velozmente até atingir os limites dos rios Tietê e Pinheiros. Na década de 40, a cidade atinge o primeiro milhão de habitantes.

O marco simbólico da cidade-metrópole pode ser considerado o aniversário de seu quarto centenário, em 1954, comemorado com o slogan "São Paulo não pode parar". Ao se tornar a principal metrópole industrial latino-americana, atrai um movimento migratório intenso do nordeste do país, cuja população encontra apenas na periferia da cidade espaço para se instalar.

O auge da cidade que "mais cresce no mundo" chega com a implementação da indústria automobilístaca no final da década de 1950. A partir de então, o foco da urbanização se vira para o automóvel. E São Paulo inicia o fenômeno de "desconcentração" do parque industrial para as demais cidades da Região Metropolitana (ABC, Guarulhos e Osasco, por exemplo).

Já na década de 1960, a metrópole inicia o atual processo de perda de qualidade de vida, que hoje pode ser medida mais nitidamente pelos congestionamentos e gritantes contrastes sociais. E, consecutivamente, seus altos índices de criminalidade.

PARA SABER MAIS

Como chegar
  • Paranapiacaba: Trem: Pegue um trem na Estação da Luz, com destino a Rio Grande da Serra. Chegando em Rio Grande, existe um serviço de ônibus
  • São Vicente: Carro. Melhor trajeto é descer para o litoral pela rodovia Imigrantes. Na altura do Km 66 (ponte do Mar Pequeno), existe sinalização para a cidade.

    Livros
  • "A Cidade de São Paulo", Caio Prado Jr., Brasiliense
  • "História do Estado de São Paulo", Maria Moreni, FTD
  • "Cidade de São Paulo", Pedro Henrique, Melhoramentos
  • "Saudades de São Paulo", Claude Levi-Strauss, Cia das Letras
  • "História Urbanística da Cidade de São Paulo: 1554 a 1988", Antônio Rodrigues Porto, Carthago & Forte
  • "Muito Prazer São Paulo", Simona Misan, Palas Athenas
  • "Industrialização de São Paulo (1880-1945)", Warren Dean, Difel
  • "Prelúdio da Metrópole: Arquitetura e Urbanismo em São Paulo na Passagem do Séc. XIX ao XX", Hugo Segawa, Ateliê Editorial
  • "São Paulo: 3 cidades em um Século", Benedito Lima de Toledo, Livraria Duas Cidades

    Na Internet
  • Departamento do Patrimônio Histórico
  • Sociedade de Preservação e Resgate de Paranapiacaba
  • Arquivos Históricos - Centro de Memória Unicamp
  • Associação Viva o Centro
  • História do Estado de São Paulo
  • Cidade de São Paulo.com
  • SPSiteCity
  • índiceÍNDICE DE REVISÕES
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