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Portugueses colonizavam em nome de Deus
Flavio de Campos*
Especial para a Folha de S.Paulo
Os costumes dos diversos povos americanos chocaram os conquistadores europeus. Enquanto o Novo Mundo, por sua natureza abundante, parecia o paraíso terrestre, sua população foi considerada bárbara, sujeita a todo o tipo de pecado: a nudez, a luxúria e até o canibalismo.

A cultura indígena foi catalogada sob rótulos já conhecidos. Como se o olhar europeu fosse focado através de óculos medievais, confirmava-se aquilo que eles já sabiam. A disposição era para reconhecer, e não para conhecer.

A cada passo da aproximação e da conquista das novas terras, os portugueses repetiam as atitudes de Adão ao tomar conhecimento dos animais: conferiam nomes aos lugares.

Primeiro Monte Pascoal, ao avistarem terras à época da Páscoa. Terra de Vera Cruz e Terra de Santa Cruz para definir a vinculação das possessões à cristandade.

Baía de Todos os Santos, São Vicente, São Sebastião do Rio de Janeiro, São Paulo, todos os nomes referiam-se ao santo padroeiro do dia de sua conquista pelos portugueses.

O batismo da nova terra antecedeu o batismo dos nativos. Como na Bíblia, nomear era uma forma de exercer o domínio e o controle simbólicos daquilo que se nomeia.

Os mínimos sinais da natureza eram compreendidos como indícios de mensagens de Deus aos conquistadores. A constelação do Cruzeiro do Sul no céu era interpretada como a evidência da bênção de Deus sobre a terra.

A existência de aves falantes, os papagaios, era mais um sinal da proximidade das novas terras com o paraíso, onde os animais se comunicavam com os seres humanos.

O termo nativo "zomé" foi compreendido como uma referência bíblica a uma presença milagrosa do apóstolo são Tomé, e o mito indígena do dilúvio foi registrado como indício de que eles tiveram conhecimento da grande inundação descrita pela tradição judaico-cristã.

No teatro que se desenrolava nesse cenário idilizado, os indígenas eram figurantes. A incorporação de novas terras e gentes ao mundo conhecido dos europeus desencadeou uma espécie de febre de "fim de mundo".

A conquista do Novo Mundo foi interpretada como o acontecimento mais importante desde a encarnação de Cristo. Para muitas pessoas, a história estava chegando ao fim.

Assim, vivia-se uma época de preparação para o Juízo Final, antecedida pela conversão de todos os povos segundo os relatos bíblicos. A descoberta do Novo Mundo anunciava o fim do mundo.
*Flavio de Campos é autor de Oficina de História, Editora Moderna, professor do colégio Móbile e coordenador da Cia. de Ética
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