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Agricultura extensiva destrói mata nativa
Márcio Masatoshi Kondo*
Especial para a Folha de S.Paulo
Os baixos níveis de água dos reservatórios de abastecimento urbano, das usinas hidrelétricas e de rios como o São Francisco nos levam a clamar por chuvas.

No mês que precede o início do período de chuvas, perguntamo-nos: Cadê a luz? Cadê a água? Será que o clima está mudando?

Nos últimos anos, as estiagens do inverno têm estado mais pronunciadas e as massas de ar úmidas, provenientes do Sul e do litoral, têm evitado o interior do país. Mas, se levarmos em conta que o clima tropical se caracteriza pela ocorrência de invernos secos, a atual situação não deverá ser tida como anormal.

O ar, os rios e os reservatórios mais secos resultam do contínuo processo de destruição da mata nativa tupiniquim. A vegetação, que conserva o solo e o ar mais úmidos, a mata ciliar, que deixa os níveis dos rios, lagos e represas mais elevados, e a floresta, que permite a existência de mananciais e dos pequenos cursos de água que serão os afluentes dos grandes rios, foram gradativamente desaparecendo para dar espaço às cidades, às lavouras e às pastagens.

As atividades humanas provocam profundo impacto na natureza e muito desse impacto é inevitável. O erro não é a atividade humana. O erro é a ação predatória. Herdamos e conservamos do século 16 a agricultura extensiva, que aumenta sua produção por meio da ampliação das áreas cultivadas e não da produtividade, criamos gado em pastagens desprovidas de árvores (fontes de sombra e água para os rebanhos), impermeabilizamos os solos e construímos sobre eles à custa da destruição do verde.

Por isso a atual crise energética também tem raízes na questão ambiental: as fontes de energia existentes (hidrelétricas) e as propostas (termelétricas e termonucleares) usam bastante água e a sua disponibilidade e a sua permanência dependem da existência ou não de vegetação.

A reposição de parte da mata nativa, especialmente a ciliar, a conservação das matas das cabeceiras dos rios, o fim das lavouras de baixa produtividade e a criação de "ilhas verdes" nas cidades e nas zonas agrícolas podem fazer com que a falta de chuvas deixe de ser uma catástrofe energética e hídrica para a nação e nos permita descortinar as verdadeiras causas (políticas e econômicas) dessas crises.

A falta de chuvas não pode ser um "bode expiatório".
*Márcio Masatoshi Kondo é professor da Cia. de Ética, do Objetivo, Icec-Universitário, do Colégio Móbile e do CLQ-Objetivo
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