Os trotes solidários, cada vez mais adotados pelas universidades, criam uma cultura de maior participação em projetos sociais e envolvimento com atividades acadêmicas, explica o professor Ademar Bueno, que ensina sustentabilidade aos graduandos de economia da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas) de São Paulo. "A mensagem passada no primeiro dia é muito forte, então deve ser positiva, de integração e cidadania. Essa é a lembrança o aluno vai levar por todo o curso e para a vida dele", diz.
Calouros da FGV-SP são "garis por um dia"
Este ano, o professor ajudou a coordenar, junto com estudantes veteranos, o "trote sustentável" da instituição, que consistia em varrição das ruas nas proximidades da faculdade, plantio de árvores e coleta de óleo usado. "A ideia era fazer uma ação ligada à questão ambiental, daí a temática do lixo. Fizemos discussões sobre como cada curso pode ajudar a resolver esse problema", explica. Cerca de 200 jovens participaram da ação.
Em vez de os veteranos pintarem os novatos, quem os pintou, desta vez, foram os garis. "Os estudantes adoraram, e o pessoal do bairro também. O maior impacto foi na comunidade, que em vez de ver os universitários pedindo dinheiro, os viu cuidando do local", ressalta.
Estudantes de direito e administração ficaram na varrição; os de economia recolheram óleo usado; os intercambistas, por sua vez, plantaram árvores. Segundo o docente, os calouros que participam deste tipo de trote são mais propensos a participar, no decorrer do curso, de atividades sociais: "Isso cria uma cultura na faculdade; se você deixa ele solto, é mais difícil de ter isso", argumenta.
Influência
O professor estudou a influência do trabalho social no formando de medicina, nos alunos da FCMSCSP (Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo). De acordo com a tese, desenvolver atividades sociais na área que se estuda na faculdade faz com que o aluno perceba mais sentido na escolha profissional.
Uma consequência disso, segundo o estudo, é que aqueles que enxergam mais sentido na carreira têm maior percepção de crescimento pessoal e profissional nas atividades desenvolvidas. Além disso, esse estudante poderá exercitar as habilidades comunicação, empatia e flexibilidade --essenciais para o futuro profissional.
Na FGV-SP há trotes sociais desde 2003. Nos últimos três anos, o trote foi unificado entre as três graduações oferecidas e tem, além das ações sociais, palestras e churrasco. "O trote unificado acaba constrangendo algum veterano que queira pegar alunos para fazer pedágio, e o calouro se sente mais protegido quando sai num grupo grande", afirma Bueno.
Medula
Para incentivar a conscientização dos calouros sobre a doação de medula óssea --que é menor do que a de sangue-- a Faculdade de medicina veterinária e zootecnia da USP (Universidade de São Paulo) disponibilizará aos novatos um cadastro para doadores.
"Resolvemos incluir o cadastramento de doadores de medula em nossa semana de recepção como forma de ajuda à Ameo (Associação da Medula Óssea) em difundir o procedimento", explica a professora Camila Vannucchi, coordenadora da semana de calouros da faculdade.
No ano passado, a faculdade realizou também coleta de sangue no trote. A ação lhes rendeu o prêmio "Melhor Semana de Recepção aos Calouros" da universidade.
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