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16/05/2008 - 20h36
Melhores redações da Fuvest têm rasuras e erros de gramática
Bruno Aragaki
Em São Paulo
Não é preciso escrever como Machado de Assis para tirar nota boa na redação da Fuvest, o vestibular da USP (Universidade de São Paulo). A coletânea dos melhores textos de 2008, publicada na quinta-feira (15), traz rasuras e erros de gramática e de pontuação - deslizes que muitos estudantes acreditam ser "imperdoáveis".

A redação é obrigatória para todos os candidatos na segunda fase do vestibular. Na prova de 2008, havia três textos falando sobre excesso de informação no mundo digital - tema sobre o qual os vestibulandos tiveram que escrever, valendo 50% da nota de língua portuguesa.

"A intenção é mostrar que, para a Fuvest, uma crase mal-colocada não faz uma redação deixar de ser boa", diz José Coelho Sobrinho, professor de jornalismo da USP e assessor de imprensa da Fuvest.

É o caso do texto "Fiscalização", que faz parte dessa seleção e traz, no primeiro parágrafo, a expressão "acesso à essas informações".

A crase, aí, foi indevidamente utilizada, segundo a consultora de língua portuguesa do Grupo Folha, Thais Nicoleti. "Primeiramente, por anteceder uma expressão no plural ("essas informações") e, depois, por não se utilizar crase antes do pronome esse", ensina Nicoleti.

Mitos

A seleção de melhores textos derruba alguns "mitos" que circulam entre vestibulandos, como a obrigatoriedade da linha em branco depois do título e a proibição da letra de forma.

"Esteticamente, até acho que fica melhor haver um espaçamento antes do primeiro parágrafo. Mas para a banca examinadora, esse é um detalhe que não faz diferença", diz Maria Aparecida Custódio, professora de redação do curso Objetivo.

Quanto à letra, uma análise rápida das redações selecionadas dá a conclusão: alguns preferem estilo manuscrito, outros não.

Rasuras e caligrafia impecável também são temas que preocupam mais os vestibulandos do que deveria, como mostra a reprodução de uma das redações ao lado.

"A banca examinadora sabe que o candidato tem pouco tempo e está nervoso", diz Custódio.

Como a redação é avaliada

"O aluno deve canalizar esforços para fazer boas referências, citar um livro, uma canção que tenha a ver com o tema. A Fuvest valoriza esse tipo de analogia", diz a professora.

Não é necessário ter conhecimento erudito para se dar bem. As referências podem ir de filosofia alemã, como fez o autor do texto A crítica da informação pura, que fez título remetendo a Immanuel Kant, a redes de televisão e sites de Internet, presentes no texto Muito Leite, Muita Nata.

O aluno também não deve perder de vista o gênero de texto exigido pela Fuvest: dissertação em prosa (ou seja, não vale poesia).

Segundo o manual do candidato da Fuvest, cada texto é corrigido por dois professores, que dão notas de 0 a 4 para cada um dos três quesitos: tema e desenvolvimento; estrutura e expressão.

"Em síntese, o aluno deve realizar quatro tarefas: entender o tema proposto e não fugir dele, demonstrar que tem opinião sobre o assunto, ter argumentação sustentável e escrever de acordo com a linguagem culta", diz o coordenador de redação do curso Anglo, Francisco Platão Saviolli.
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