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12/02/2007 - 13h02 USP recebe seus calouros com tinta, tesoura e poça d'água Da redação Em São Paulo
Acompanhado da mãe Suzana, Frederico Lage, 17, aguardava ansioso sua vez de entregar os documentos para se matricular em engenharia, na Politécnica. "É o 'final feliz' da história, sem clichê. Esperei bastante por este momento e quero curtir muito", disse, ainda com a cara limpa e o cabelo bem penteado. "Vim de Goiânia só para estudar aqui. Não é um trotezinho que vai me assustar", gargalhava junto à mãe, percebendo que estava cercado por veteranos "armados", que só esperavam o término da burocracia para atacá-lo. "Tentamos incentivar a participação de todos no trote, pois é um dia único para eles. Nosso objetivo não é humilhar ninguém, e sim parabenizar a galera depois de um ano duro de estudos e privações", disse Vinícius Nogueira, veterano da Poli. "É um momento de integração, de fazer novos amigos. Quem está chegando deve levar na esportiva e deixar rolar", afirmou Diego Rabatone Oliveira, aluno da Poli desde 2005. Cristiano Estrada Gomes, 19, se destacava na fila de matrícula pela sua careca precoce. "Assim que saiu a lista meus amigos já cortaram o meu cabelo", explicou conformado, completando que já era veterano de trotes. "Já fiz um ano de computação aqui na USP. Espero ter acertado na carreira desta vez, porque dois trotes são mais que o suficiente". "Espírito familiar" Cada calouro que ultrapassava a porta da secretaria da Poli era abordado por Lucas Pirolla, 22, e seu discurso pronto: "Você já tem onde morar? Pois estou procurando um calouro que queira dividir apartamento aqui no Butantã". Veteraníssimo, Pirolla tentava seduzir os familiares dos ingressantes dizendo que sua república tinha "espírito familiar". "É pertinho da USP e tem faxineira uma vez por semana. Somos bem limpinhos e odiamos cigarro", sussurrava ao pé do ouvido do "bicho" Marcelo Galdiano Duarte, 21, e seu pai, Newton, que tinham chegado há pouco de Ituverava, interior de São Paulo. Do lado de fora do portão, três poças d'água renderam um improvisado banho de lama a alguns calouros mais rebeldes. "Prefiro tomar banho do que cortar o cabelo", disse Cézar Augusto Bellezzi, 18, exibindo a cabeleira intacta. "Eu pedi para não cortar e me respeitaram". Em um reduto masculino por excelência, os veteranos da Poli não perdoaram quando as "bichetes" Thaís Lori, 17, e Larissa Igushi, 18, saíram do prédio já matriculadas. "Bichete! Oba! Oba!", cantavam, fazendo paródia com o refrão da música do grupo baiano Chiclete com Banana. Com o máximo de respeito possível -- "são poucas (mulheres) por aqui, então temos de cuidar bem", dizia um veterano -- sacaram os potes de tintas e passaram a maquiá-las. "Agora sim, estão tchutchucas", bradava um segundo, enquanto amarrava as meninas com um barbante e saía desfilando com elas, como que exibindo um troféu. "Eu sabia que seria uma espécie rara na Poli. Por isso, não vou nem reclamar", dizia, conformada, Thaís, exibindo uma pintura camuflada no rosto. "Se a brincadeira parar por aí, ainda acho que estamos no lucro", completava Larissa. Banho No prédio ao lado, dos cursos de fisioterapia, terapia ocupacional e fonoaudiologia (Fofito), quem mandava mesmo era a mulherada. Um pouco mais cruéis com as ingressantes, as veteranas jogavam bexigas com água e farinha nas novas colegas, que após o banho, tinham que "surfar" em uma prancha imaginária, desenhada no chão com giz. "Estou molhada, melecada e com frio, mas muito feliz", resumiu Juliana Marcolan, 18, já voltando para casa como nova aluna de fisioterapia da USP. Depois de meses de estudo, cobrança e ansiedade, nada como um bom banho de água fria para esfriar a cabeça. |