22/12/2005 - 15h53

Cresce a procura pelo curso de gestão de políticas públicas

Simone Harnik
Da Folha de S. Paulo

O escândalo do "mensalão", relatórios das CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito) e cassações ocuparam os noticiários nos últimos meses e fizeram com que os brasileiros ficassem mais críticos em relação aos políticos do país. Nesse cenário, a figura do administrador público ganha espaço. É o que afirma o coordenador do curso de gestão de políticas públicas da USP Leste, José Álvaro Moisés.

"A crise causada pela corrupção mostra que, quanto mais bem formado o gestor for, com visão clara da cidadania e dos desafios que o Brasil vive, quanto mais percepção, mais ele vai poder ajudar o país a não depender de líderes messiânicos", afirma.

Em seu segundo ano, o curso foi um dos que mais tiveram aumento de procura. Em 2004, 438 vestibulandos se inscreveram para disputar uma vaga na USP Leste. Neste ano, foram 1.405 candidatos concorrendo às 120 vagas da graduação. A relação candidato/ vaga passou de 3,6 para 11,25, e a nota de corte (usada na convocação para a segunda fase) subiu 13 pontos, de 33 para 46.

A procura está relacionada com um aumento nas possibilidades de trabalho do profissional. Segundo Moisés, é cada vez maior o número de concursos públicos para a seleção de gestores, seja na área federal, seja nos Estados ou nos municípios.

"O gestor público não é nem político nem simplesmente um quadro técnico. É um administrador público formado com visão mais abrangente do que os tradicionais", afirma.

Para formar essa visão, o curso da USP se preocupa com dois aspectos: o gestor deve ser capaz de diagnosticar os problemas da sociedade e de propor soluções aplicáveis. "O investimento do Brasil nas áreas sociais é alto. O que falta é eficiência, eficácia para que o investimento dê resultados e haja controle social, evitando a corrupção", diz.
A FGV (Fundação Getúlio Vargas) e a Unesp mantêm o curso de administração pública, que também têm foco no trabalho com questões de interesse coletivo.

Onde trabalhar
"O administrador público pode se orientar para regulação democrática e eficiente. Pode trabalhar também em ONGs (organizações não-governamentais). A gente procura no curso dar uma boa base humanista, sensibilizar os alunos para desafios da área pública", afirma a coordenadora da graduação na FGV, Marta Farah.

Na FGV, há dois tipos de administração: a tradicional, voltada para as empresas, e a pública. A coordenadora explica que a maior parte dos alunos chega interessado na primeira modalidade. "Muitos chegam com uma imagem ruim do serviço público. Os últimos escândalos não contribuíram para diminuir isso", diz.

Na faculdade, há todo um trabalho para reverter esse estereótipo. "No curso, o aluno fica exposto à possibilidade de uma outra visão sobre a administração pública. Ela pode ser comprometida com a eficiência, com a justiça social."

Na graduação, o estudante ganha familiaridade com as políticas públicas e se torna capaz de formulá-las, implantá-las e avaliá-las. "Ele tem de ser capaz de lidar com conflitos, diferenças de interesses das populações, coordenar assembléias públicas. É um desafio estimulante e muito rico."

A professora ainda afirma que a área pública é fundamental, até para que o setor privado possa se desenvolver. "E não podemos ter jovens que não têm esperança em projetos coletivos. Quando mostramos projetos de transformação, com sentido, os olhos deles brilham."

UOL Celular