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Após vestibular, aluno de Federal pode levar até três anos para saber que curso vai fazer

Cristiane Capuchinho

Do UOL, em Santarém (PA)

15/04/2013 06h00

O estudante que quer fazer um curso superior na Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará) tem de se preparar para um longo processo seletivo. Do momento em que apresentar a nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para concorrer ao ingresso podem se passar até três anos para que ele tenha certeza de ter conseguido a vaga no curso em que deseja, isso se for aprovado em todas as etapas.

O modelo de entrada na Ufopa é único e não específico para cada um dos 36 cursos de graduação oferecidos pela instituição. O aluno com nota suficiente para frequentar os bancos da universidade ingressa como estudante da instituição em um ciclo de formação interdisciplinar, sem saber ao certo se terá no futuro vaga para o curso que desejar.

Primeiro vaga no instituto, depois procura vaga no curso

Após seis meses de aulas interdisciplinares, estudos amazônicos e palestras sobre cada um dos cursos que poderá seguir, o estudante passa por um processo seletivo que o leva ao instituto que deseja para os próximos quatro anos ou mais de estudo. Será dentro do instituto que o aluno será avaliado mais uma vez após seis meses para saber se alcança nota suficiente para lhe garantir uma vaga em um curso de graduação ou em um bacharelado interdisciplinar.

Em alguns casos, como o do curso de farmácia, o universitário só entrará no curso específico após o fim do bacharelado interdisciplinar, três anos após seu ingresso pelo processo seletivo.

“O objetivo é dar a chance do aluno, que entra na universidade muito jovem, descobrir carreiras além das tradicionais”, explica satisfeito o reitor José Seixas Lourenço.

Na prática, porém, a diferença de concorrência entre os cursos acaba passando para o interior da universidade e muitas graduações ficam com vagas ociosas. Um dos cursos de graduação, para os quais deveriam ser destinadas anualmente 30 vagas não tem turma por falta de procura: o bacharelado interdisciplinar em etnodesenvolvimento.

“Entram muitos alunos querendo fazer direito no ICS (Instituto de Ciências da Sociedade), os que não conseguem ou acabam em uma vaga de antropologia ou arqueologia ou abandonam a faculdade”, conta o professor Pedro Leal, coordenador do Programa de Antropologia e Arqueologia.

De acordo com Leal, uma pesquisa feita com ingressantes do ICS mostrou que mais de 60% dos 220 alunos pretendiam uma vaga no direito, no curso são aceitos anualmente apenas 50 .

Das 60 vagas que seu programa ofereceu na última seleção, apenas 37 foram preenchidas por alunos do ciclo básico. Das 23 restantes, 12 acabaram preenchidas por processos de transferência interna ou externa.

No ICED (Instituto de Ciências da Educação), o problema é ainda maior. Das 290 vagas oferecidas no último ano para alunos do ciclo básico, apenas metade foram preenchidas, afirma o reitor, que diz estar avaliando um plano de estímulo que prevê que todos os alunos da licenciatura recebam bolsa de estudos.

O modelo, que na visão do professor Seixas é inovador e precisa apenas de adequações que devem vir a partir da experiência, é percebido pela maioria dos alunos e professores entrevistados como gerador de frustração e desperdício de dinheiro público.