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No Recife, trote tem sobrancelhas raspadas e curativos coloridos

Roberta Guimarães/UOL
Imagem: Roberta Guimarães/UOL

Carol Guibu

Do UOL, em Recife

23/01/2013 01h17Atualizada em 23/01/2013 01h45

Nesta época do ano, quando os listões de vestibulares são divulgados, não é difícil ver pelas ruas do Recife e região metropolitana, meninas desfilando com curativos coloridos colados em uma das sobrancelhas.

Aos desavisados pode até parecer estranho, mas para os pernambucanos não tem mistério. Todos sabem que se tratam de garotas orgulhosas com a aprovação em vestibulares do Estado.

Os curativos ocupam o lugar da sobrancelha que é raspada em uma espécie de trote às calouras pernambucanas.

Mas, diferente do que acontece em outros Estados, essas manifestações geralmente não são forçadas. Ao contrário, servem de status para os "feras", como são chamados os vestibulandos locais.

Um exemplo disso é a estudante Bruna Rhayane da Cunha, 16, que este ano passou no vestibular da UPE (Universidade de Pernambuco), no curso de bacharelado em educação física.

Com medo de ficar com pouco pelo, mas sem querer deixar a "tradição" de lado, Bruna resolveu raspar, ela mesma, sua sobrancelha. "Não confio que raspem pra mim, porque acho que podem exagerar, por isso eu mesma vou fazer", contou. Na maioria dos casos de "autotrote", só a ponta da sobrancelha é "depilada".

Curativos coloridos

Outra característica do trote são os curativos coloridos. "Descobri que tinha passado no vestibular no dia que o listão foi divulgado, mas, como não tinha band -aid em casa, só resolvi raspar alguns dias depois, quando meu avô trouxe um monte [de curativos] pra mim", disse a caloura. "Agora vou usar um band-aid diferente por dia."

Com a estudante Alice Maria Cavalcanti, 17, a história foi um pouco diferente. Depois de ver o seu nome entre os aprovados no curso de enfermagem da UPE, uma amiga não deu muita chance de escolha e logo quis pregar o trote na colega. "Minha amiga cortou só um pouquinho mas, no dia seguinte, minhas primas e tias se juntaram e, rasparam muito", lembrou.

Apesar de ter sido "forçada à raspar", Alice não viu problemas em ficar sem parte da sobrancelha direita. "Acho muito legal passar na rua e ver que todo mundo sabe que fui aprovada no vestibular."

Foi exatamente por esse motivo que Elizabeth Calheiros, 17, caloura do curso de psicologia da UPE, preferiu não aderir à moda das estudantes. "Sou muito tímida e ficaria envergonhada quando as pessoas que não conheço chegassem em mim para me parabenizar ou perguntar em que curso passei", contou.

Ainda segundo Elizabeth, a decisão também foi um modo de solidarizar-se às amigas que não passaram. "Não queria que elas ficassem chateadas de me verem comemorando algo que elas ainda não alcançaram."

Apesar de não concordar com os trotes, o presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia, em Pernambuco, Sérgio Palma, afirmou que, diferente do que muitas garotas pensam, os pelos voltam, sim, a crescer. De acordo com o dermatologista, porém, o problemas podem estar ligados à forma de como essa raspagem é feita. "Como esses trotes acontecem em grande parte das vezes, em situações de muita alegria e euforia, podem haver cortes que, se não forem bem cuidados, podem infeccionar", afirmou.

"Para evitar problemas, meu conselho é que as calouras e amigos delas sempre utilizem lâminas individuais, caprichem na higienização e tomem cuidado para, no momento da euforia, não cortarem a pele."