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Com autorização dos pais, calouros levam tinta e farinha em trote da Unesp em Bauru

Felipe Ohno

Do UOL, em Bauru (SP)

08/02/2012 15h02Atualizada em 09/02/2012 11h28

Tinta, ovos e farinha fizeram parte do arsenal usado pelos veteranos do maior campus da Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Bauru (SP), para sujar os calouros na manhã deste primeiro dia de matrícula, que começou nesta quarta-feira (8) e vai até amanhã (9), das 9h às 18h. A maioria dos pais que acompanhavam os alunos incentivou e aprovou a brincadeira.

Jorge Salhani, de 17 anos, foi o primeiro calouro de jornalismo a chegar. Acompanhado dos pais, ele não se intimidou e até dançou "Ai, se eu te pego" na frente de todos. Além da pintura, os veteranos não economizaram nos gritos e até fizeram o garoto "chocar um ovo". "Achei os caras até simpáticos, como fui o primeiro, acho que eles ainda não estavam preparados", ironiza.

Já Bruna Rye, de 19 anos, não estava muito confortável. “Sou muito tímida e, por isso, não gosto dessa exposição toda. Tenho medo do trote e estou pensando até em não vir nos primeiros dias de aula. Mas já me alertaram que vai ser pior se eu faltar, então estarei aqui”, conta a nova estudante de design.


Mães

Apesar de clima de comemoração, a mãe de Lya Beatriz, de 18 anos, não gostou nada da gritaria. Os veteranos da “bixete” de relações públicas tiveram que conversar bastante para que a mãe permitisse que a filha fosse pintada. “Fico com receio por conta das histórias que a gente ouve por aí. Além disso, temos que procurar, ainda hoje, um lugar para ela ficar”, conta a mãe, que estava com receio da tinta não sair.

Marina Machuca, de 17 anos, também foi acompanhada dos pais. A caloura de jornalismo disse que o trote foi tranquilo, já que os seus veteranos estavam despreparados. A mãe, dona Solange Machuca, não estava muito feliz com o desperdício: “Tenho um filho com Síndrome de Down e faço parte de uma associação que depende de doações, por isso está me cortando o coração ver toda esta farinha jogada pelo chão. Gostaria de ver algo mais solidário”. Apesar disso, ela acha que o trote com senso de humor é fundamental. “Até agora achei suave, só estou com dó do cabelo da minha filha. Você sabe, né? Cabelo de mulher é sagrado”, brinca Solange.

Os veteranos João Paulo Marinelli, 18, e Rebeka Miquelutti, 18, criaram uma comissão para recepcionar os calouros. “Somos a favor dos trotes amigáveis para as pessoas se divertirem. Além disso, damos seguimento ao Projeto Adote, que tem como função acolher os “bixos” nas nossas repúblicas até que eles achem pessoas para dividir uma casa. Assim, eles têm tempo de se conhecer e montar uma república por afinidade”, explicam.

Aliança Bíblica Universitária

Mas não foi só tinta e gritaria que os alunos encontraram nesta manhã na Unesp. A ABU (Aliança Bíblica Universitária), um grupo cristão da universidade, estava distribuindo um kit com squeeze, ecobag e muitos informativos para ajudar os calouros. “Nossa intenção é divulgar o nosso trabalho dentro do campus e acalmar os pais, mostrando que nem tudo é baderna aqui dentro”, diz a integrante da ABU, Josi Gotardo.

Mas para acalmar mesmo os pais, dar assistência aos alunos e fiscalizar os trotes, as 3 faculdades da Unesp de Bauru criaram comissões de recepção dos calouros. De acordo com o Prof. Dr. Nilson Ghirardello, responsável pela comissão da FAAC (Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação), não há como o trote ser coibido. “Acreditamos que seja melhor que ele aconteça aqui dentro sob os nossos olhos do que na rua, onde tudo pode acontecer. Esta é uma ótima forma de integração entre os alunos e a universidade, os pais até pedem que os filhos sejam pintados”, argumenta o professor, que não vê problemas na sujeira dos alunos.

De acordo com Angélica Ruiz, diretora-técnico acadêmica da FAAC, os alunos devem usar o bom-senso. “Acho válido esta comemoração de passagem, muitos esperam por isso. Depois daquele incidente na USP, em 1999, quando o trote foi totalmente proibido, nossos calouros sentiram falta”, lembra Angélica. Além da fiscalização, um bloco de notas com um guia acadêmico será distribuído para os alunos nos dois dias de matricula.