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Após comprovar erros, Uncisal decide anular vestibular e processar empresa que elaborou provas

Carlos Madeiro

Especial para o UOL Educação, em Maceió

22/12/2011 17h50Atualizada em 22/12/2011 18h01

Duas semanas após candidatos denunciarem uma série de irregularidades, a Uncisal (Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas) anunciou, nesta quarta-feira (21), que as provas do vestibular 2012 estão anuladas. As provas tiveram falhas na fiscalização, plágio de questões e perguntas com erros de português.

Em entrevista coletiva, a reitora Rozangela Wyszomirska afirmou que foi necessário menos de uma semana de análise da prova para que uma comissão, formada por professores da instituição, definisse que as alegações feitas pelos estudantes sobre o conteúdo e fiscalização procediam. A Uncisal informou que não pagou o valor de R$ 190 mil à empresa pela realização do certame.

“Diante do que nós conseguimos realizar nesse período, já temos subsídios suficientes para anular as provas, o processo licitatório, desqualificar a empresa Exatus [realizadora das provas] e mover ação judicial contra a empresa por danos morais a esta universidade; e, por fim, executar, em caráter de emergência, ações para aplicação de novas provas para os candidatos inscritos”, afirmou, explicando que não havia necessidade de esperar até o dia dois de janeiro, quando estava prevista a divulgação do relatório e decisão sobre a anulação ou não do vestibular.

Segundo Wyszomirska, uma nova prova será realizada no início de 2012. Um cronograma atualizado será anunciado pela universidade até o dia cinco de janeiro. A Uncisal informou ainda que vai fazer a contratação de uma nova empresa sem licitação, já que o prazo previsto para lançamento de um edital e contratação prejudicaria ainda mais os candidatos.

Conforme a decisão da universidade, apenas poderão fazer as novas provas os alunos que estavam inscritos no vestibular até a data do primeiro cronograma. Quem não quiser mais prestar as provas, poderá pedir o dinheiro da inscrição de volta. O vestibular teve 4,5 mil inscritos, com maior concorrência em medicina --77 para cada vaga, entre os não-cotistas.

Erros

Segundo um parecer feito pela comissão da Uncisal, a empresa paranense Exatus descumpriu itens que estavam previstos no edital. Além das falhas na fiscalização e erros de português, muitas das questões foram copiadas da Internet. “Além de atitudes que feriram o edital como o uso de bonés por candidatos, a falta de sacolas plásticas para que os mesmos possam acomodar seus pertences como celular, relógios e outros objetos de uso pessoal entre outros itens”, disse a universidade, em nota oficial.

Já os estudantes questionaram que as falhas na elaboração das perguntas teriam dificultado o entendimento das questões e prejudicado muitos candidatos. Entre as questões das provas, há erros de português, como áreas escrito como “Arias” e a frase “diminuiu os poder dos cafeicultores”. Uma das questões pede que o candidato analise um gráfico, que não estava impresso na prova.

“Muitos candidatos tiveram experiências irregulares com o fiscal e com o gabarito. Temos provas para cancelar esse vestibular ou adiar o resultado, previsto para sair no dia 21”, disse o vestibulando Renato Barreto, 23, que tenta entrar em uma das vagas do curso de medicina e representou o grupo de vestibulandos.

Segundo o candidato, as provas vieram com questões “absurdas, impossíveis de serem respondidas.” “Tem questão sem a proposição correta ou com erro de ortografia. Houve também erro de digitação, como a número nove de matemática, que, ao invés de barrinha deitada, aparecia uma de divisão. Eu mesmo errei essa por conta da falha”, afirmou.

A estudante Ane Balboni, 21, tenta entrar pela quarta vez em uma das vagas de medicina e contou que nunca viu provas tão mal elaboradas e irregularidades como as desse ano. “Na prova de física, por exemplo, das 15 questões, sete estão erradas. Havia questões dúbias também. Sem contar que celular tocou na hora da prova, e os fiscais disseram que não tinham nem ata para anotar. Teve gente que entrou sem mostrar a identidade, de relógio”, disse.

Uma das questões apontadas como mais grave foi o fato da redação pedir, ao fim, a assinatura do candidato. “Isso tira a lisura. As provas vão ser corrigidas aqui em Alagoas. Provas de vestibular não podem ter nada que contenha identificação de uma candidato, como manda o MEC (Ministério da Educação). Foram coisas absurdas, e a gente espera que seja tomada alguma providência antes da divulgação do resultado”, afirmou a Balboni.

Sem resposta

UOL Educação voltou a entrar em contato, na tarde desta quinta-feira (22), com a sede da empresa Exatus, em Iporã (PR), mas –assim como nas outras oportunidades-- ninguém quis comentar sobre as decisões da universidade alagoana.