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Após erros de português e falhas nas provas, candidatos pedem anulação de vestibular em Alagoas

Carlos Madeiro

Especial para o UOL Educação, em Maceió

09/12/2011 17h37Atualizada em 09/12/2011 18h34

Candidatos que prestaram vestibular da Uncisal (Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas) foram ao MP (Ministério Público) Estadual, nesta sexta-feira (9), denunciar supostos erros na elaboração e fiscalização das provas. Com uma série de documentos, o grupo questionou as falhas que teriam dificultado o entendimento das questões e prejudicado muitos candidatos. Há também perguntas com erros gramaticais e respostas questionadas por diversos professores de Alagoas. O vestibular teve 4,5 mil inscritos, com maior concorrência em medicina --77 para cada vaga, entre os não cotistas.

Entre as questões das provas, realizadas entre domingo (4) e terça-feira (6), há erros de português gritantes, como área escrito como “Aria” e a frase “diminuiu os poder dos cafeicultores”. Uma das questões pede que o candidato analise um gráfico, que não estava impresso na prova.

Outro ponto questionado pelos candidatos foi a exigência de assinatura pessoal na redação. Além disso, os estudantes alegam de houve irregularidades na fiscalização das provas, como uso de celulares por vestibulandos durante as provas, saídas desacompanhadas ao banheiro e início das provas de alguns candidatos até 15 minutos antes do horário previsto.

“Nós fomos ao MP demonstrar os nossos argumentos, com os erros das provas e testemunha de alunos. Muitos candidatos tiveram experiências irregulares com o fiscal e com o gabarito. Temos mais que provas para cancelar esse vestibular ou adiar o resultado, previsto para sair no dia 21”, disse o vestibulando Renato Barreto, 23, que tenta entrar em uma das vagas do curso de medicina e representou o grupo de vestibulandos.

Segundo o candidato, as provas vieram com questões “absurdas", que seriam impossíveis de ser respondidas. “Tem questão sem a proposição correta ou com erro de ortografia. Houve também erro de digitação, como a número nove de matemática, que, ao invés de barrinha deitada, aparecia uma de divisão. Eu mesmo errei essa por conta da falha”, afirmou.

A estudante Ane Balboni, 21, tenta entrar pela quarta vez em uma das vagas de medicina e contou que nunca viu provas tão mal elaboradas e irregularidades como as desse ano. “Na prova de física, por exemplo, das 15 questões, sete estão erradas. Havia questões dúbias também. Sem contar que celular tocou na hora da prova, e os fiscais disseram que não tinham nem ata para anotar. Teve gente que entrou sem mostrar a identidade, de relógio. Numa sala só, 20 candidatos receberam o caderno errado de gabarito. Ao invés de 50 respostas, tinham espaço só para 40. Os fiscais entregaram um novo cartão, mas sem o cabeçalho, ou seja, sem a identificação digital do candidato, como deveria ser”, disse.

Uma das questões apontadas como mais grave foi o fato da redação pedir, ao fim, a assinatura do aluno. “Isso tira a lisura. As provas vão ser corrigidas aqui em Alagoas. Provas de vestibular não podem ter nada que contenha identificação de uma candidato, como manda o MEC (Ministério da Educação). Foram coisas absurdas, e a gente espera que seja tomada alguma providência antes da divulgação do resultado”, afirmou a Balboni.

Uncisal espera por empresa

Segundo o professor Augusto Oliveira, membro da comissão de processo seletivo, a Uncisal já tomou “todas as providências” para avaliar os questionamentos dos vestibulandos às provas. “Não fomos nós que elaboramos a prova. Nós contratamos uma empresa paranaense [a Exatus], que ficou responsável pelo concurso. Ela foi contratada por meio de licitação e apresentou toda a documentação necessária. Nós já entramos em contato com ela para que analise as questões e nos envie um parecer com os esclarecimentos”, afirmou.

O professor informou ainda que o vestibular, a princípio não será cancelado. Oliveira disse que a comissão do processo seletivo também está “permanentemente reunida” para analisar os questionamentos apontados pelos estudantes. “Até que façamos uma análise, com o parecer da empresa, o processo seletivo está mantido. Só a partir daí é que podemos definir o que ocorrerá. Até a sexta-feira da próxima semana informaremos, em entrevista coletiva, os procedimentos que vamos adotar”, afirmou.

Apesar dos erros claros na prova, o professor não quis comentar sobre a elaboração do material. “Temos que analisar com cuidado, não é correto manifestar nenhum juízo de valor agora. Vamos esperar o parecer da empresa para depois nos manifestar”, disse Oliveira.

A empresa Exatus foi procurada pelo UOL Educação, mas a atendente informou, no início da tarde, que a pessoa responsável pela área, identificada como Caroline, estaria ocupada no momento e não poderia falar. A atendente ainda pediu que a reportagem voltasse a ligar às 16h. Após novo contato, a mesma atendente, chamada Aline, mudou a versão e informou que a responsável teria viajado e só retornaria na terça-feira (13). 

Segundo informou à Uncisal, a empresa montou uma banca para examinar todos os questionamentos e recursos ingressos por vestibulandos e tem o prazo até a próxima quarta-feira (14) para entregar um parecer sobre os questionamentos. Em seu site, a empresa paranaense informa que o prazo para recursos terminou às 23h59 desta quinta-feira (8).