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Feira de engenharia em SP reúne nerds, óculos, jalecos e discussões sobre ciência

Rafael Targino

Em São Paulo

23/03/2011 07h00

“Nerds do mundo, uni-vos”: se a 9ª edição da Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia), que acontece em São Paulo, tivesse um grito de guerra, esse poderia ser um deles. É difícil entrar na tenda montada na Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e não se deparar com certos clichês: adolescentes de óculos e jaleco e discussões sobre porque o movimento “x” acontece ou o motivo de a reação química a + b acabar, surpreendentemente, dando “c”.



E, se muita gente tem trauma das disciplinas de exatas no colégio, alguns dos participantes da feira têm traumas diferentes. “Qual é o meu trauma? Ver teoria sem aplicar. A prática em exatas é essencial para a engenharia”, diz um empolgado Guilherme Silva, 18, de Salvador. Ele (de óculos e jaleco) mostrava empolgado aos passantes seu modelo sobre a “forma prática do pêndulo de Foucault”.

Mas, para poder chegar a São Paulo para explicar como o pêndulo faz uma “margarida” enquanto se movimenta, foi necessário, além de algum conhecimento de física, dinheiro. “Ficou tudo R$ 2,5 mil, para ficar uma semana em São Paulo. A outra aluna, a Bárbara [Rodrigues, que fez o projeto junto com Guilherme], não pôde vir [por causa do dinheiro]”, lamenta o professor orientador, Gilásio Nogueira.

Detector de bêbado

Também há gente na feira que transformou os experimentos em algo, digamos, “efetivamente” mais prático. Larisse Anselmo, 18, Karen Cristhian, 18, e Sandy Ferreira (nome inspirado no filme “Grease”, ela jura), 19, de Manaus, criaram um detector de motoristas bêbados. O conceito é simples: se o sujeito bebeu demais e teve a ideia pouco esperta de sair dirigindo, o carro não liga.

Segundo elas (devidamente vestidas com o uniforme da feira), o aparelho –que custaria cerca de R$ 50– detecta partículas de álcool no ar. “E se o motorista ficar de boca fechada o tempo inteiro?”, pergunta o UOL Educação. “Não tem problema, o detector pega”, afirmam. “E se ele começar a beber dirigindo?” “O detector percebe e para o carro.” “No meio da rua? Isso não pode causar um acidente?” “A gente fez um circuito de atraso. O carro leva um tempo até parar e liga o pisca-alerta.” “Dá para fazer um teste aqui?” “A gente até pediu vodca, mas não deixaram”, diz Larisse.

Paletó, mas sem gravata

Cleber Quadros, 19, morador de Charqueados, no Rio Grande do Sul, destoa do resto da Febrace: o garoto alto com cabelo encaracolado (ligeiramente inspirado em alguma banda de rock de Nova York) preferiu calça social, camisa de botão e paletó (sem gravata).

Mas, se faltavam os óculos para que ele pudesse se encaixar em um dos clichês, o projeto que Cleber apresenta resolve o problema. “É um óculos com um controlador de cadeiras de rodas para tetraplégicos. A pessoa mexe a cabeça e direciona a cadeira”, diz.

Quem quiser ver os 302 projetos dos 670 participantes de escolas de ensino fundamental, médio e técnico de todo o país (ou fazer uma avaliação mais detalhada da moda nerd de 2011) tem até a o dia 24 de março, das 14h às 19h, para visitar a tenda montada no estacionamento da Poli.