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Na UnB, veteranos tentam evitar trote e viram alvo de ovos atirados por colegas

Da Redação*

Em São Paulo

01/02/2011 14h45Atualizada em 01/02/2011 20h19

Durante a divulgação da lista de aprovados no PAS (Programa de Avaliação Seriada) da UnB (Universidade de Brasília) ontem (31), veteranos contrários ao trote fizeram um escudo com cartazes, tentando evitar que outros veteranos jogassem ovos nos calouros, mas não conseguiram. Os alunos traziam cartazes com os dizeres "somos veteranos e não damos trote", em repúdio à recepção ocorrida na Faculdade de Agronomia e Veterinária. Foram aprovados no PAS 1.466 estudantes.

 

 

“A gente percebeu que tem uma maioria calada contra o trote. Esse é um momento importante para eles. Não tem que ter humilhação”, diz Vítor Guimarães, um dos integrantes do DCE (Diretório Central dos Estudantes). Na tentativa de poupar os novos alunos, Vítor ficou completamente sujo. “A ideia é mostrar que se é para levar ovo, que todo mundo leve. Não dá é para sujar só o calouro”, completou.

 

Apesar de a comemoração ter sido feita "com uma nova compreensão do que é 'receber'" somente com "ovos, farinha e tinta", segundo informações da universidade, veteranos ofereciam bebida alcoólica para os aprovados. “Ninguém perguntou se eu queria, mas eu também não recusei, contou a caloura Jéssica Moura. Questionado sobre a prática, um dos veteranos disse: “Não posso sair pedindo a carteira de identidade de todo mundo. Se eles não beberem aqui, vão beber em outro lugar”, justificou, sem se identificar.

 

Novas regras

Até quinta-feira (3), a universidade deve divulgar texto com novas regras para a convivência comunitária. A instituição abrirá um canal para a comunidade acadêmica possa debater as novas regras. Dentre diversas proposições, o documento deve proibir o comércio de bebidas alcoólicas e estabelecer normas para confraternizações.

 

A ação é uma resposta à denúncia de discriminação contra mulheres ocorrida em trote aplicado às calouras da Faculdade de Agronomia e Veterinária da instituição no início do ano. Sujas de tinta, as alunas tinham que lamber leite condensado em uma linguiça encapada com uma camisinha na frente de veteranos. Após a divulgação do trote na imprensa, o reitor da UnB, José Geraldo de Sousa Junior, nomeou comissão para investigar o caso.

 

O Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Mulheres (NEPeM) da UnB classificou o trote como "práticas vulgares, vexatórias, desrespeitosas e humilhantes a que as alunas foram submetidas", pois "a mensagem veiculada nessas ações associa fortemente as mulheres a objetos sexuais e destina-lhes um espaço desvalorizado em ambiente em que as capacidades cognitivas, não os atributos corporais, são prestigiadas". A Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República pediu explicações à universidade sobre o trote.

 

*Com informações da Agência UnB